quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Três corações noctâmbulos no bolero em noite cinza – José Edson dos Santos


www.unb.br/fau/pos_graduacao/paranoa/ceu/ceu.html

Noturno sem andorinha

Da janela do apê
fumego o souza câncer
indiferente
vejo a Asa Norte
anoitecer estrelada
Roteiro underground dos meninos
entrequadras
ventres adolescentes
ratos emaconhados &
junkies de latrinas
Titubeante o telefone toca
e não é a marvada de tristeresina
mas fatalmente
dá para ouvir
o trombone do Zeca
entrecortando alguma coisa
do Raul de Souza
como se a noite fosse
um vestido velho
sujo e rasgado a esconder
os pentelhos crespos
da criatura amada

Noctâmbulos com partitura erótica

No umbral do teu dorso
desenho a noite mais notívaga
antecedendo plenilúnios e orgasmos

Acendo estrelas e neons
entre centelhas de virilhas e pentelhos
para iluminar a cidade e seu desvario

Alhures o solo de bandônion
acorda o desejo urdido
feito veneno na madrugada

Louca a engendrar a arquitetura
onde poetas, ventríloquos e saltimbancos
procuraram a quintessência do ser e do tempo

Bebo os sentidos da paixão
como se fosse rito de passagem
incendiando a paisagem da city sitiada

Contorno gestos lânguidos com sofreguidão
tamborilando o alabastro da manhã
ouvindo vestuta sanfona que sobe a escada

Algum pássaro solfeja um canto perdido
quando o corpo de Orfeu cansado
quieto queda em um lençol de vertigem

Meu poetílico pássaro pirado jasmim

Indiferente e pálido
olhou a clarabóia aberta
sorrateiro penetrou
como sombra de jibóia e poeta
revelando o jeito forasteiro e rápido
de esconder suas mágoas

Nunca entrou numa de bater na porta
prefere a emergência da madrugada
e a mania dialética de entrar
sem pedir arenga

Enruste a mágoa pelo interfone
por trás do verso perverso
dizendo beber a mesma água de onça
para saciar sua ânsia felina

Restou um gosto barroco e amargo na boca
dor amor dissabor rancor
passeio de rimas pobres
pela persiana de recuerdos

Nenhuma rima rica nem soneto ranheta
para redimir a perda do sonho
a condição sonheteira das imagens
Palavras são parábolas

Ficar cada vez mais
bêbado bosta pelo avesso
sufoca o Bukowski dionisíaco
que habita torto o porto inseguro
de seu coração selvagem
onde blasfema bastardos e bardos
que silenciam em conflitos e medos

Indiferente e pálido
olhou a sombra do poema esvair
com um cheiro leve de jasmim

Escutou o jazz imaginário do dilema
seguindo trilha de duendes e cogumelos
quando a cotovia cantou
acabou a cannabis e a madrugada

Indiferente pálido e triste
evidenciou a madrugada no rabo
deu sua risada calhorda e cínica
mandando tudo as picas
até o que de mais poético existe
no seu jeito de ver a aurora
pelo espelho provisório da vida

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