quinta-feira, 30 de julho de 2009

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Grupo Corpo -

Trecho do espetáculo "O Corpo" do Grupo Corpo, trilha sonora de Arnaldo Antunes, música "Momento III", com Mônica Salmaso nos vocais.


O Corpo como Objeto de Arte: Henri-Pierre Jeudy


Anton Koling http://www.bbc.co.uk/portuguese/especial/817_pelados/page5.shtml

“É preciso tomar o corpo à letra” – Serge Leclaire

"Há na arte do século XX uma vontade manifesta de romper com a tirania do espelho. Mas esta não se traduz por uma cristalização crescente dos modelos de representação? A violência crítica que opera na criação artística terminou por ser produtora de estereótipos culturais. Ela não pode mais se enganar quanto à sua capacidade de subverter os clichês, pois os inventa bem mais poderosos por suas pretensões teóricas. Essa “sucessão” de estereótipos na vida cotidiana, prossegue de uma maneira contagiosa, impondo ao mesmo tempo uma “ordem estética” e sua confusão. Pela dinâmica de sua repetição e por sua colisão, as imagens corporais se renovam desde sua estereotipia e a reversibilidade constante do sentido das imagens corporais confere uma incerteza semântica que permite sempre crer em sua capacidade de ser inalcançáveis. Designado como origem das origens, considerando como aquilo a partir do qual o Eu se constitui, o corpo coloca sempre a mesma questão: como ela pode ser uma presença que tem significado com sua ausência? É tido por real, é tomado por uma ilusão, é o texto daquele que não pára de se escrever, apagando-se... Mas é justamente por ser aquilo que acontece e aquilo que se oculta, o que faz sentido e o que destrói o sentido – a coleção desse tipo de estereótipos, ela própria é fascinante – que ele é considerado o próprio fundamento de toda estética. Se a referência ao “corpo como objeto de arte” é um grande lugar-comum, será que isso não se dá na medida em que ela constitui em torno de si o grande jogo das ilusões estéticas? O que se chama de “estetismo”remete sempre ao corpo às maneiras de ele aparecer, de se vestir, de se movimentar, de dispor os objetos em um espaço, como se o corpo fosse o que estabelecesse a estética das “relações com o mundo”. Quando se fala de “artes de fazer”, a expressão designa práticas usuais, mas a referência à “arte” lhe confere o valor suplementar de uma estética das maneiras de fazer. Somente na expressão “arte de fazer” o corpo em si é percebido como capaz de produzir a referência à arte. Sem ele, a ideia de estética que acompanha as maneiras de fazer não teria fundamento. Em outras palavras, o corpo é tomado, a priori, por um “objeto de arte” vivo. Essa concepção comum do estetismo no cotidiano não ocorre sem ligação com o fato de se considerar o corpo como produtor de sinais. Ela supõe, a priori, que o corpo não pára de assinalar-se pelo estilo de emissão de sinais, quer dizer, seguindo uma finalidade estética colocada desde o começo de sua vida, desde a primeira infância".
(Fragmento extraído do livro O Corpo como Objeto de Arte, de Henri-Pierre Jeudy. Editora Estação Liberdade, São Paulo, 2002.)