sábado, 3 de janeiro de 2009

Poemas de Eudoro Augusto


http://oglobo.globo.com/blogs/Gibizada/default.asp?a=48&periodo=200610

Eudoro Augusto publicou seus primeiros poemas no Correio Brasiliense, ainda nos anos 60. O Misterioso Ladrão de Tenerife foi seu primeiro livro (em parceria com Afonso Henriques Neto), Editora Oriente, Goiânia,1972. A Vida Alheia, Rio, Coleção Vida de Artista, 1975; Dia Sim, Dia Não (em parceria com Francisco Alvim), Brasília, Edição dos Autores, 1978; Poemas (em parceria com Antonio Carlos de Brito e Letícia Moreira de Souza), Lima, 1979; Carnaval, Massao Ono, 1989; Olhos de Bandido, Sette Letras, 2001; Um Estrago no Paraíso, Edições do Sudoeste, Brasília, 2008.

Menina, Você Por Aqui?


Sobre o amor pouco ou nada fala.
Aquela coisa que fere
aquela coisa que afaga.
E sacode a bela cabeça de leve
mais por charme que por convicção.
“E vou calar
pois não pretendo, amor, te magoar
ai, ai..."

Sim, tive sim, o samba de Cartola
também faz parte do nosso repertório.
Gostaria de pedir um Chablis
para acompanhar as ostras
mas claro que o dinheiro não vai dar.
Ela acende um cigarro atrás do outro
e tem uma idéia encantadora:
o vinho chileno da promoção.
O sorriso despede uma certa tristeza
ao dizer: estou fumando mais
depois que papai morreu de câncer.

As ostras infelizmente acabaram.
Mas temos salmão defumado
presunto Parma mussarela de búfula
e até jacaré.
Obrigado, mais tarde a gente pede.
A segunda garrafa aquece a conversa
mais a terceira é fatal.
Cai pesadamente sobre a mesa
a maldição da banalidade.
Você tem ido ao cinema?
Tento lembrar o nome dela
só pra me despedir.
Você já leu Bukowski?
Olha, eu vou nessa.
Tenho dentista amanhã bem cedo.
Mas não some. Me liga.
A gente se vê por aí,

Boca de Cena

Se você quiser
serei discípulo de Molière.
Montarei fina comédia
no palco onde toda noite
você ensaia seu pequeno drama.

A Exceção e a Regra

Nem todos os poetas são cabeludos.
Nem todos os críticos são carecas.

Nelson Rodrigues

Abro o jornal na página errada
onde assoma um cidadão flácido e viscoso
abraçado a uma granfina com narinas de cadáver.
Em suas faces brilha o suor da volúpia.
Viro a página e lá está a loura desbotada
com um falso sorriso e um olhar paranóico.
Ela sabe que está marcada para morrer
apunhalada pelo cunhado.
E o Destino aquele fracassado
vai tombar em espasmos de humilhação
ao atravessar a rua e ser atropelado
por uma carrocinha de Chica-Bom.

Paloma, Petúnia, Amanda e Cecília

Por volta das onze
Paloma se esconde no jardim
e volta se queixando do assédio
de um sátiro de porte médio
sussurrando em lúbrico latim.
Meia hora depois
sacode o rabo à luz da lua cheia
acenando para um beduíno na palmeira.
Após a cachoeira de champagne
Petúnia se apossa da espátula
e pinta uma zebra que vai passando.
Exatamente à meia-noite
Não muito longe do paiol
Amanda risca um fósforo
e abre um dueto com o estranho rouxinol.
Mais tarde
lá pelas 3 da matina
Cecília surpreende o unicórnio
matando a sede na piscina.

( poemas do livro Um Estrago no Paraíso, trilogia que reúne: Olhos de Bandido, de 2001, Carta Selvagem 2002/2006 e Clarabóia 2007/2008 )


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