sexta-feira, 29 de maio de 2009

Flor de Maio - José Edson dos Santos





Flor de Maio (José Edson dos Santos)

Flor da quintessência

até a borboleta

voa serena no teu ser

Maio (José Edson dos Santos)

Pluriflora flor alvorada

na manhã operária

opiária de nenúfares e líquens

molhada de tristeza agrária

Dores amores em maio

abelhas cerzindo o mel

na clara e alva tarde

diz o trabalho ardente

arde desejo e cantatas

árias de pássaros

avisando o poente

e a travessia da ponte

de todas possibilidades

Poesia em tempo tracajá (José Edson dos Santos)

Meu maio de Maiakóvski

bate na lembrança

do tempo tracajá

Havia poesia de soslaio

em minha lombra

de mucura sonsa

cavucando palavras

na loucura escura

do galinheiro

altaneiro

sábado, 9 de maio de 2009

Mamãe - Mother



Quem já se sensibilizou com o humanismo de Máximo Gorki presente no romance A Mãe, certamente relaciona a coragem e a ternura de outras mães, como as eternizadas por Bertold Brecht, Torquato Neto, entre outros, como o bardo deste blog.

Mãe Coragem (Torquato Neto)

Mamãe mamãe não chore
a vida é ssim mesmo
eu fui embora
Mamãe mamãe não chore
eu nunca mais vou voltar por aí
Mamãe mamãe não chore
a vida é assim mesmo
é isso aqui

Mamãe mamãe não chore
pegue uns panos para lavar
leia um romance
veja as contas do mercado
pague as prestações
- Ser mãe
é desdobrar fibra por fibra
os corações dos filhos
seja feliz
seja feliz

Mamãe mamãe não chore
eu quero eu posso eu fiz eu quis
Mamãe seja feliz
Mamãe mamãe não chore
não chore nunca mais não adianta
eu tenho um beijo preso na garganta
eu tenho um jeito de quem não se espanta
(braços de ouro vale dez milhões)
Eu tenho corações fora do peito
Mamãe não chore, não tem jeito
Pegue uns panos pra lavar leia um romance
Leia Alzira, a morta virgem
O grande industrial

Eu por aqui vou indo muito bem
de vez em quando brinco o carnaval
e vou vivendo assim: felicidade
na cidade que eu plantei pra mim
e que não tem mais fim
não tem mais fim
não tem mais fim
(Gravado no disco Tropicália ou Panis et circensis (1968), por Gal Costa)

Dia Santo de Chorar na Chuva
José Edson dos Santos

Sentimento ameríndio marajoara
trouxe dor de garganta e quebranto

A certeira injeção no glúteo panema
espanta gralha que entoa loas
ao lema da curandeira esmaecida

O sol soletra língua de sal na orelha
lambe insensatez na tarde covarde
beber crepúsculo de anilina em mim

Lugar no mapa da rua que não tem mais nada
traz a mão gelada da mãe morta no rosto
conforta a solidão no vento do fim de setembro

Lembro descer as escadas da quatrocentos e seis norte
tecendo considerações de toda sorte às pequenas esperanças

E dona Antonia América não esperou o dia das crianças
nem viu descobrimento no dia santo de chorar na chuva.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

Basquiat - Heroin - Velvet Underground



O jovem pintor afro-americano era filho de Gerard Jean-Baptiste Basquiat, ex-ministro do interior do Haiti que se tornou proprietário de grande escritório de contabilidade ao imigrar para os Estados Unidos e de Mathilde Andrada, de origem portorriquenha. Era o primeiro, dos três filhos do casal, de classe média alta. O menino Jean-Michel, como toda criança, aos três anos já desenhava caricaturas e reproduzia personagens dos desenhos animados da televisão. Mas seu gosto pela arte se tornou coisa séria e um dos seus programas favoritas era, já aos seis anos, freqüentar o MOMA, Museu de Arte Moderna, de onde tinha carteira de sócio-mirim.Uma tragédia o colocou ainda mais próximo da arte, quando aos sete anos foi atropelado e no acidente teve o baço dilacerado. Foi submetido a uma cirurgia e ficou uma temporada no hospital. Sua mãe, então lhe deu de presente um livro de anatomia, Gray's Anatomy, que teria grande influência em seu futuro de artista, revelado pelas pinturas de corpos humanos e detalhes de anatomia e até no nome da banda musical de curta duração que fundou em 1979: Gray's, que assumia as influências dos ventos latinos, vindos do Caribe e Porto Rico, que sopravam sobre a cena artística de Nova York, como o hip hop, o break e o rap.Com o divórcio dos pais, muda com o pai e as irmãs para Porto Rico e lá vivem de 1974 a 1976. Basquiat toma contato com suas origens latinas. Aos 17 anos está de volta a Nova York e não consegue se adaptar às escolas convencionais. Passa a freqüentar a Edward R. Murrow High School mas a abandona praticamente no final do curso, sai de casa, vai morar com amigos, e passa a pintar camisetas que ele mesmo vende nas ruas. Com o artista gráfico Al Diaz cria a SAMO (same old shit - mesma velha merda), marca e assinatura que usava para espalhar as suas obras pelas paredes da cidade. Passa a viver nas ruas e a grafitar paredes, portas de casas e metrôs de Nova York. Aos poucos torna-se uma celebridade, começa a aparecer num programa da TV a cabo e é convidado a participar do filme Downtown 81, investindo o dinheiro que ganhou em materiais de pintura. O filme relata um dia na vida do jovem artista à procura da sobrevivência e mistura hip hop, new wave e graffiti, manifestações artísticas típicas do início da década de 80.
Com a fama adquirida passa a ter dinheiro, torna-se artista internacional de vanguarda e amigo de pessoas influentes, conhecendo e convivendo com Andy Warhol, com quem compartilhou forte amizade. Warhol proporcionou a ele lugar para morar, materiais para trabalhar, além de ajudar a divulgar o seu trabalho e patrocinar algumas excentricidades, típicas de endinheirados. Nessa época Basquiat abandonou a arte de rua e o graffiti e decreta nas paredes: "SAMO morreu". Começa a pintar telas que passam a ser adquiridas e comercializadas por marchands de Zurique, Nova York, Tóquio e Los Angeles, ávidos por novidades. De artista que vivia precariamente passa a ser um artista consumido e recebido nos salões mais chiques e exclusivos de Nova York.A arte de Basquiat, chamada de "primitivismo intelectualizado", uma tendência neo-expressionista, retrata personagens esqueléticos, rostos apavorados, rostos mascarados, carros, edifícios, policiais, ícones negros da música e do boxe, cenas da vida urbana, além de colagens, junto a pinceladas nervosas, rabiscos, escritas indecifráveis, sempre em cores fortes e em telas grandes. Quase sempre o elemento negro está retratado, em meio ao caos. Há também uma dessacralização de ícones da história da arte, como a sua Mona Lisa (acrílico e óleo sobre tela) que é uma figura monstruosa riscada no suporte.O período mais criativo da curta vida e da carreira meteórica de Basquiat situa-se entre 1982-1985, e coincide com a amizade com Warhol, época em que faz colagens e quadros com mensagens escritas, que lembram o graffiti do início e que remetem às suas raízes africanas. É também o período em que começa a participar de grandes exposições. Em 1982, com a mostra Anatomy, foi o mais jovem artista da famosa exposição Dokumenta, de Kessel. E, em 1983, o mais jovem artista da Bienal do Whitney Museum, de Nova York. Daí em diante, participa de centenas de exposições e passa a ter trabalhos espalhados por vários dos museus mais importantes do mundo, como: Osaka City Museum of Modern Art, Japão; Chicago Art Institute, Illinois, Estados Unidos; Everson Museum of Art, Syracuse, Nova York, Estados Unidos; Solomon R. Guggenheim Museum, Nova York, Estados Unidos; Kestner-Gesellschaft, Hannover, Alemanha; Museum Boymans-van Beuningen, Roterdã, Holanda; Museum of Contemporary Art, Chicago, Estados Unidos; Museum of Contemporary Art, Los Angeles, Estados Unidos; Museum of Modern Art, Nova York, Estados Unidos; Museum of Fine Arts, Montreal, Canadá; Whitney Museum of American Art, Nova York, Estados Unidos.A morte do amigo e protetor Andy Warhol, em 1987, deixa Basquiat abalado e debilitado e isso se reflete na sua criação. Os críticos, sempre muito exigentes, já não o tratam com unanimidade e Basquiat responde a essas cobranças, associando-a ao racismo arraigado da sociedade americana. Solitário, exagera no consumo de drogas e em agosto de 1988 acontece a trágica morte por overdose de heroína, que põe fim à carreira brilhante do primeiro afro-americano a ter acesso à fechada cena das artes plásticas novaiorquinas e, a partir daí, presença nas mais importantes mostras do mundo, entre elas, uma sala especial, em 1996, na 23ª Bienal de São Paulo, e em 1998, uma retrospectiva na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
Conheça mais Basquiat (1996), filme inspirado na vida do artista, dirigido por Julian Schnabel, com Jeffrey Wright como Basquiat e David Bowie como Andy Wahrol. (AAR)