segunda-feira, 23 de março de 2009

Engenho D'Alma

O EVANGELHO SEGUNDO ZÉ LIMEIRA, ou A PAIXÃO DE ZEBEDEU

http://www.imagens.google.com
Sara casou com Abraão
num dia de santo rei.
Três dia após o casório,
Gandhi recebeu um e-mêi,
onde Agar comunicava
que a patroa emprenhada
deu a luz naquele mês.
Adicionar imagem
Três reis magos lá chegaram
montando uma bicicleta
e entoando a marselhesa
sua canção predileta.
Quando avistaram Abraão
entregaram a saudação
do Saci, príncipe de Creta.

O rei D. Pedro levou
pra criança um banzai,
pra Sara um espartilho
e de presente pro pai
uma maquete da bastilha
que ele comprou em Brasília
na feira do Paraguai.

A criança era Jesus,
virtuoso e ativista.
Aos treze fugiu pra Cuba
pra se tornar comunista.
Transformava gato e boi,
e vinte anos depois
foi fichado na polícia.

Mas fugiu para o Brasil
no lombo quente d'um burro,
disfarçado de judeu,
cabelo grande e barbudo.
Quando apeou no sertão
botou pra correr o cão
dos arredó de Canudos.

Graduou-se à distância
em Oratória Funesta.
Perseguindo a vocação
fez um curso pra Profeta,
botou um roupão de 'nhagem
sem jóia, sem maquiagem,
sem riqueza e sem cueca.

Fez fama nas redondezas
pelas coisas que falava
dentro da mente de todos
seu perfil se agigantava.
E em sua prosa segura
o povo viu a figura
do Messias que esperava.

No sermão em Chorrochó,
mais de mil gente se aninha
ao redor do santo Cristo,
entoando ladainha,
pra ouvir que a terra dura
há de virar rapadura
e o pó virar farinha.

Falava ao povo pobre
que o mundo se escafedia,
que sobre o Cocorobó
a lua despencaria,
e a cabeça do pagão
entre as meada dum pão
o diabo comeria.

Um cangaceiro chorava
Abraçado ao seu fuzil
numa emoção tão grande
que chega a fome fugiu.
Nesse dia um aleijado
levantou emocionado,
mas o coitado caiu.

E a fama de milagreiro
Pelo sertão se espalhou.
Diziam que em plena seca
no céu azul trovejou,
e que apareceu nos galho
das árvores um orvalho
quando o santo espirrou.

Alguns levavam nas costas
uma grande cruz de enfeite,
outros cingiam na testa
um pouquinho de azeite.
Nesses dias de emoção
foi tanta fé no sertão
que choveu café-com-leite.

[Fragmentos extraídos do cordel inédito O Evangelho Segundo Zé Limeira, de Salatiel Ribeiro]

quarta-feira, 11 de março de 2009

Todo Dia é Dia Dela (Mulheres da Vida) - José Edson dos Santos


Angelina Jolie de Vernon
http://www.worth1000.com/cache/gallery/contestcache.asp?contest_id=3253&display=photoshop

Toca “Tentando Entender as Mulheres” do Mundo Livre s/a. Duas atrizes aparecem de lados opostos, exercitando ações básicas do movimento. Ficam em frente uma da outra, criando jogos do espelho e da sombra, entremeadas por fotografias expressivas que relembrem obras de arte com figuras femininas. A música cessa.

Atriz 1 – O homem deveria estimular na mulher sua lua sonhadora, as estrelas delirantes, onde a luz do sol suaviza a sombra das grutas. As flores selvagens das moitas, as rosas orgulhosas e radioativas são jardins celestiais das mulheres. Ninfas, dríades, sereias, ondinas, fadas, iaras, habitam os campos, os bosques, os lagos, os rios. Não há nada mais arraigado no coração do homem naquilo que esse imaginário possibilita.

Atriz 2 – Para o marinheiro o mar é uma mulher perigosa e pérfida, difícil de conquistar mas que ele ama através de seu esforço de domá-la. Orgulhosa, rebelde, virginal e má, a montanha é uma mulher para o alpinista que a quer violar ainda que correndo perigo de morte. Afirma-se muitas vezes, que essas comparações são manifestações de uma sublimação sexual.

Atriz 1 – Elas exprimem antes uma afinidade tão original quanto a própria sexualidade entre a mulher e os elementos.O homem espera da posse da mulher mais do que a simples satisfação de um instinto; ela é o objetivo privilegiado através do qual ele domina a Natureza. Pode acontecer que outros objetos desempenhem esse papel. É, por vezes, no corpo das odaliscas que o homem procura a areia das praias, o odor das madressilvas.
Atriz 2 – No mar, na montanha, o Outro pode encarnar-se quase tão perfeitamente quanto na mulher: é que opõem ao homem a mesma resistência passiva e imprevista que lhe permite realizar-se; são uma recusa a ser vencida, uma presa a ser possuída. Se o mar e a montanha são mulheres, é porque a mulher é também para o amante o mar e a montanha.

Atriz 1 – Assim sendo, mediadora entre o homem e o mundo. É preciso que ela encarne o maravilhoso desabrochar da vida, e ao mesmo tempo que diminuísse os perturbadores mistérios dessa existência.

Atriz 2 – Pedir-lhe formosura e plenitude, pois apertando nos braços uma coisa viva só pode encantar-se com ela esquecendo que toda vida é habitada pela morte.

Coro das Atrizes – Quem compreendeu o princípio da dialética da natureza humana foi a feminista Simone de Beauvoir no seu livro Segundo Sexo, tão lembrando? É poraí...

( Volta a música. As atrizes voltam a se fitar, como se desafiando o espelho ilusório e vão saindo de cena em câmara lenta. Toca Folhetim, com Gal Costa quando a luz invade o espaço cênico, percorrendo os ambientes onde a Prostituta, a Dona de Casa, a Perua Emergente, a Empresária, a Beata e a Porra-Louca se encontram para desenvolver seus monólogos )

PROSTITUTA – Todos os homens são volúveis e canalhas. Sempre compram o desejo pagando no varejo para depois cuspir no prato que comeram. Falam e se vangloriam sem nunca ter entendido que a mulher da vida, a puta, é forçada a simular um orgasmo para que ele como macho se sinta plenamente satisfeito. Foram as damas da noite que criaram a mais antiga da profissão que a humanidade conhece: a prostituição, uma instituição bancada pelos homens e pela hipocrisia da sociedade de consumo depravado. Humano, demasiadamente humano. Não vivemos pra dançar mas dançamos a vida na extensão dos seus pecados capitais. (cantando sensualmente). ´´Se acaso me quiseres/ sou dessas mulheres/ que só dizem sim/ Por uma coisa à toa/ como noitada boa/ um cinema/ um botequim/ E se tiveres renda/ aceito uma prenda/ qualquer coisa assim/ como uma pedra falsa/ um sonho de valsa/ ou um corte de cetim/ e te farei as vontades/ direi meias verdades/ sempre a meia luz/ e te farei vaidoso, supor/ que és maior/ E que me possuis/ mas na manhã seguinte/ não conta até vinte/ te afasta de mim/ pois já não vales nada/ és pagina virada/ descarta do meu folhetim``. Quem nunca ouviu falar de Maria Madalena que atire a primeira pedra no telhado da história. Quer saber de uma coisa, meu benzinho? Puta é a vagaba de tua mãe!

DONA DE CASA – Assim que começamos a viver junto, ele queria me proteger, prover minhas necessidades. Ah, sim, ele me levava a sério, admitia meu ponto de vista, trazia presentes e pretendia me sustentar. Mas depois que provou da fruta, de usar e abusar do bem bom, mudou radicalmente de postura: queria a sua casa sempre arrumada, os filhos nutridos indo à escola, o almoço e o jantar na hora certa, tudo como recomenda o guia de boas maneiras. Com esse subterfúgio, instalou a opressão em definitivo. Veio com aquela conversa machista de que era ele quem ganhava dinheiro, que se matava de tanto trabalhar para mantermos nosso padrão de vida. Ele dizia isso com tanta convicção mas logo depois saía para encher a cara pelos bares da vida e chegar de madrugada, xingando todo mundo, querendo fazer sexo selvagem com a esposa. Ele não sabia o respeito que eu lhe tinha. Os compromissos, os filhos, todas as coisas no seu devido lugar. Ele denominava isso de perfeita harmonia do lar. Lar doce lar. Que coisa mais idiota! Depois que aconteceram os desenlaces, veio a falta de respeito, de consideração. Só que aí, radicalizei de vez: a casa virou de pernas pro ar. Os filhos foram criados para o mundo. Eles que aprendam a caminhar com as próprias pernas. Depois desse folhetim urbano, pano de prato pra mim, é a cueca do meu amante. Quando ele descobriu que eu tinha mudado já foi tarde. Eu olhei e falei bem na cara dele: - A vida dá uma volta na gente, seu Zé Mané !

PERUA EMERGENTE – Hello, beautiful people, como estamos? Eu ontem fui em uma reunião social na casa de campo de Cidinha Pompideau. Coisa de gente chique. Toda a sociedade emergente estava ali reunida, desfilando os seus modelitos "fashion". A vaidosa da Gabi Proença usava um vestido verde-musgo de cetim francês, arrasou. Já a antipática da Marilu Botelho apareceu carregando no seu colo um poodle com tintura lilás e coleira de brilhante. Deu o Ibope que ela tanto precisava. Tem muito tempo que eu venho implorando ao meu marido Alfredo para que na próxima vez que formos à Bariloche, que ele me compre um casaco de pele de leopardo. Quero mostrar no meu condomínio que também tenho estilo. Que tenho a minha marca. Mas sei que existe uns maldosos que surgem da sombra para ficarem fofocando de como subi na vida: - A vendedora de cachorro-quente e quentinha quem diria, soube aplicar o seu capital e se deu bem! Hoje, o que eu quero dizer a eles, é que Ana Raimunda está preparando a sua entrada triunfal no mundo do "glamour".Tenho tido aula de canto e impostação duas vezes por semana, faço teatro, dança, capoeira e natação. E ainda vou ser a produtora do meu próprio espetáculo: "O Umbigo de Veludo da Vedete". Já imaginou o letreiro piscando com luzes neon o meu nome cintilante? Podem aguardar, vai ser o maior sucesso. Chamarei a mídia escrita e televisionada pra fazer a cobertura avant première. Essa society emergente que pensa que é granfina vai ficar roendo as unhas de inveja. Quem viver, verá meu brilho de purpurina no ar. Por acaso alguém aí tem uma novidade melhor do que essa? (Toca o celular) Alô. Marquinhos Beauty? Marquei sim para o final da tarde. Preciso mudar novamente de visual. Questão de estilo. Em sociedade quem não aparece, não acontece, meu bem...

EMPRESÁRIA – Ah, esses homens, quanta decepção! Depois que me desquitei do Oscar, só tenho ocupado a minha cabeça com os empreendimentos de minhas empresas. O Oscar, frouxo do jeito que era, nunca soube fechar um negócio de ocasião, sempre dependeu de mim quando era para tomar as grandes decisões. Decepcionei-me muito com ele. Descobri que ele não era nada daquilo que eu idealizava e com isso, o falso amor acabou. Ainda bem que não tivemos nenhum filho. Quando ele entendeu que tudo tinha acabando, sentiu menos assim. Hoje, eu me jogo de corpo e alma naquilo que faço. Prefiro abrir um grande empreendimento do que ter uns homens idiotas me bajulando. Tenho feito aplicações na bolsa de Hong-Kong, comprado imóveis no Caribe e alguns investimentos nas ilhas Caiman. Quando me sinto sozinha, na secura, abro o jornal na seção de acompanhantes e ligo para um desses garotões sarados, que fazem programa mas deixam meu corpo todo ardente de paixão. Não quero ser confundida com essas peruas que se dizem senhoras da alta sociedade mas que não passam de putas na cama, umas vagabundas! Tenho vontade própria. Sei o que quero. Deve ser horrível viver de pés e mãos atadas, satisfazendo os caprichos do macho. Servir a ele, sempre pronta para ser possuída , estuprada ou espancada, conforme o humor que ele entre no lar. Lar, doce lar. Existe mito mais idiota. (Olha o relógio e apanha o jornal sobre a mesa). Agora vou pedir licença, pois tenho que saber as notícias do mundo financeiro, ver como andam as minhas aplicações. Se para um bom entendedor, meia palavra basta, prefiro um orgasmo neoliberal que o gozo interesseiro de um amante medíocre, além do mais, todo mundo sabe que money, money, é muito bom.

BEATA – A humanidade caminha para a sua miséria espiritual. As pessoas só pensam em bens materiais, em ostentação, prazer e vaidade. Há muito tempo caíram na depravação e na promiscuidade, não ligando para a dor do próximo. Não são solidárias nem mesmo com suas famílias. A minha formação religiosa não permite que eu caia em tentação. Tenho louvado a Jesus Cristo para que ele se compadeça da ignorância, da pobreza de espírito que mora no coração alheio . A penitência e o jejum me dão a certeza de que cumpro o meu papel de noiva do Senhor neste mudo perdido de orgias e pecados. Na próxima semana farei meu retiro espiritual em uma igreja da periferia onde o padre Franco faz o sermão da montanha. Oh, céus! Como posso pensar besteira em uma hora dessa ? Mas o Padre Franco é o próprio pecado em pessoa! Vou rezar 10 Padre Nosso e 10 Ave Maria para esquecer essa imagem de luxúria que habita a minha mente. Cruz credo, cabeça vazia, oficina do diabo ( Começa orar com obsessão).

PORRA-LOUCA (mastigando chiclete) – O carinha chegou pra mim de repente e me disse sem frescura : E aí, mina, vamu entrar numas? Eu nem acreditei em uma cena daquela e fechei a cara, tipo não vem que não tem, véi. Tá pensando que sou o quê? Já dormiu comigo alguma vez para chegar com toda essa intimidade, garotão? Tenho a cara de quenga de bandido? Tá me tirando? Quer levar um chute no traseiro? Aí o carinha deu uns pulinhos de lado e insistiu: Fique fria mina, eu só quero te apresentar uma ponta, tá ligada? Eu fiquei toda cabulosa, olhei a figura com mais simpatia e respondi de supetão : Porquê tu não falou logo da ponta, meu chegado? Se é para apresentar uma ponta, eu tô sempre pronta... Precisava ver os papos do cara. O cara era totalmente revoltado com o sistema. Podia sê até um desses políticos picaretas que vivem poraí, tamanha era a capacidade de sacação do doido. Como o tempo passa, o tempo voa, quando eu dei por mim já tinha entrado numas da azaração do carinha. Tinha dado, deitado com ele com prazer. O lero lero do doido deu certo. Hoje vivemos numas de amantes porras-loucas para ninguém ficar com o disse-me-disse na esquina. Meu ouvido não é pinico pra ficar ouvindo prosa errada sobre meu gatinho. É barra meu...love de pica quando bate fica, tá ligado? (Faz uma bola do chiclete, espoca e vai embora)

Tingele Tangale Bob

terça-feira, 3 de março de 2009

Amar-te ou Marte, Pernilongo - Zemagá


Eros & Psiquê - Antonio Canova
http://www.images.google.com/

Zemagá, mineirinho, contador de causos e pilhérias afrodisíacas, repassa semanalmente piadas on-line aos amigos. Especialista em Mídias na Educação e aguardente de engenho, mora em Vicente Pires, renovando as lorotas como seu passatempo preferido.
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O marido, ao chegar em casa no final da noite diz à mulher que já estava deitada :

- Querida, eu quero amá-la.

A mulher, que estava dormindo, com a voz embolada, responde:

- A mala... ah não sei onde está,não! Use a mochila que está no maleiro do quarto de visitas.

- Não é isso, querida. Hoje vou amar-te.

- Por mim, você pode ir até Júpiter, até Saturno e até à p.q.p, desde que me deixe dormir em paz!...


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Em um momento de grande descontração, um poeta modernista escreveu:


'Satânico é meu pensamento a teu respeito,

e ardente é o meu desejo de apertar-te em minha mão,

numa sede de vingança incontestável

pelo que me fizeste ontem.

A noite era quente e calma

e eu estava em minha cama,

quando sorrateiramente te aproximaste.

Encostaste o teu corpo

sem roupa no meu corpo nu,

sem o mínimo pudor!

Percebendo minha aparente indiferença,

aconchegaste-te a mim

e mordeste-me sem escrúpulos

até nos mais íntimos lugares.

Eu adormeci.

Hoje quando acordei,

procurei-te numa ânsia ardente,

mas em vão.

Deixaste em meu corpo e no lençol,

provas irrefutáveis do que entre nós ocorreu

durante a noite.

Esta noite recolho-me mais cedo,

para na mesma cama te esperar.

Quando chegares,

quero te agarrar com avidez e força.

Quero te apertar

com todas as forças de minhas mãos.

Só descansarei quando ver

sair o sangue quente do seu corpo.

Só assim, livrar-me-ei de ti,

pernilongo, Filho da Puta!'

domingo, 1 de março de 2009

Pós-Modernismo - Fredric Jameson


The Escher Art Gallery

Os últimos anos têm sido marcados por um milenarismo invertido segundo o qual os prognósticos, catastróficos ou redencionistas, a respeito do futuro foram substituídos por decretos sobre o fim disto ou daquilo (o fim da ideologia, da arte, ou das classes sociais; a “crise” do leninismo, da socialdemocracia, ou do Estado do bem-estar etc.); em conjunto, é possível que tudo isso configure o que se domina, cada vez mais freqüentemente, pós-modernismo. O argumento em favor de sua existência apóia-se na hipótese de uma quebra radical, ou coupure, cujas origens geralmente remontam ao fim dos anos 50 ou começo dos anos 60.
Como sugere a própria palavra, essa ruptura é muito freqüentemente relacionada com o atenuamento ou extinção (ou repúdio ideológico ou estético) do centenário movimento moderno. Por essa ótica, o expressionismo abstrato em pintura, o existencialismo em filosofia, as formas derradeiras da representação no romance, os filmes dos grandes auteurs ou a escola modernista na poesia (como institucionalizada e canonizada na obra de Wallace Stevens) são agora vistos como extraordinária floração final do impulso do alto modernismo que se desgasta e se exaure com essas obras. Assim, a enumeração do que vem depois se torna, de imediato, empírica, caótica e heterogênea: Andy Warhol e a pop art, mas também o fotorrealismo e, para além deste, o “novo expressionismo”; o momento, na música de John Cage, mas também a síntese dos estlos clássico e “popular” que se vê em compositores como Phil Glass e Terry Riley e, também, o punk rock e a new wave (os Beatles e os Stones funcionando como o momento do alto modernismo nessa tradição mais recente e de evolução mais rápida); no cinema, Godard, pós-Godard, o cinema experimental e o vídeo, mas também um novo tipo de cinema comercial (a que voltarei mais adiante);Burroughs, Pynchon ou Ishmael Reed, de um lado, e o nouveau roman francês e sua sucessão, do outro, ao lado de um novo, e alarmante, tipo de crítica literária baseada em uma nova estética da textualidade ou da écriture... A lista poderia se estender ao infinito; mas será que isso implica uma mudança ou ruptura mais fundamental do que as mudanças periódicas de estilo, ou de moda, determinadas pelo velho imperativo de mudanças estilísticas do alto do modernismo?
Mas é no âmbito da arquitetura que as modificações da produção estética são mais dramaticamente evidentes e seus problemas teóricos têm sido mais consistentemente abordados e articulados; de fato, foi dos debates sobre arquitetura que minha concepção do pós-modernismo – como esboçada nas páginas seguintes – começou a emergir. De modo mais decisivo do que nas outras artes ou na mídia, na arquitetura as posições pós-modernistas são inseparáveis de uma crítica implacável ao alto modernismo arquitetônico, a Frank Lloyd Wright e ao assim chamado estilo internacional (Le Corbusier, Mies etc.) Aí, a crítica e a análise formal (da transformação do edifício em escultura virtual, típica do alto modernismo, ou em um “pato” monumental, segundo Robert Venturi) incluem uma reavaliação do urbanismo e da instituição estética. Nessa ótica, atribui-se ao alto modernismo a responsabilidade pela destruição da teia urbana da cidade tradicional e de sua antiga cultura da vizinhança (por meio da disjunção radical dês eu contexto ambiental do novo edifício utópico do alto modernismo), ao mesmo tempo que o elitismo e o autoritarismo proféticos do movimento moderno são implacavelmente identificados no gesto imperioso do Mestre carismático. ( Fragmento do livro Pós-Modernismo – A Lógica Cultural do Capitalismo Tardio, de Fredric Jameson. Editora Ática, São Paulo, 2007.)