sábado, 5 de abril de 2008

VICENTE HUIDOBRO



Vicente Huidobro (1893-1948), nascido em Santiago do Chile, filho de família aristocrática e rica, é bem pouco conhecido no Brasil. Em matéria de poesia chilena, o repertório médio brasileiro não vai além de Pablo Neruda e Gabriela Mistral. Se muito, incluí Nicanor Parra. No entanto, em meio a pequeno grupo de conhecedores, formados por poetas e amantes de poesia, Huidobro é amado – e seu prestígio aí, como fabro e teórico, é bem maior que o de Neruda e Mistral juntos. O ideólogo do criacionismo, que caminhou luminosamente da estética romântica para a maré de fogo das vanguardas do início do século XX, converteu-se, no âmbito desse cículo reduzido e exigente, em ponto fundamental de referência, em marco inaugural da nova poesia hispano-americana, instaurando a modernidade poética em meio aos nossos companheiros-de-viagem continentais. E nada mais certo. Antes que timidez ou prudência, o que encontramos em Huidobro, espírito ousado e independente, irrequieto até a medula, é o desejo, ou melhor dizendo, a ânsia de inovar. A novidade era, para ele, uma necessidade - e uma obsessão. Não por acaso ele criou o criacionismo, paroxismo da procura do novo. (Antonio Risério, em Huidobro: A Poesia Como Atentado Celeste).
“O grande poema de Huidobro é Altazor: o açor no avanço das alturas e que desaparece queimado pelo sol. As palavras perdem seu peso significativo e tornam-se, mais que signos, marcas de uma catástrofe estelar. Na figura do aviador-poeta reaparece o mito romântico de Lúcifer” ( Octávio Paz )
“A importância de Huidobro, como poeta e como teórico da poesia, é fundamental, para quem queira pensar no problema da renovação dos meios poéticos na América Espanhola” ( Haroldo de Campos )

Arte Poética

Que o verso seja como uma chave
que abra mil portas.
Uma folha cai; algo passa voando;
o que os olhos enxerguem, criado seja,
e que a alma do ouvinte fique a tremer.

Inventa novos mundos e cuida de tua palavra;
o adjetivo, quando não dá vida, mata.

Estamos no ciclo dos nervos,
o músculo pende,
como lembrança, dos museus;
mas nem por isso teremos menos força:
o vigor verdadeiro
reside na cabeça.

Por que cantais a rosa, ó Poetas!
Fazei-a florescer no poema;
apenas para nós
vivem as coisas sob o Sol.

O poeta é um pequeno Deus.


Ao Ouvido do Tempo

(Fragmento)

Tenho grandes ânsias e vergonhas de tudo
como uma hora que pára e pede pão
como aquele que não pode dizer o que quer
enterrado no fundo de sua raça

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