segunda-feira, 1 de novembro de 2010

A morte em poesia



Angélica T.Almstadter

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Os Mortos (Abel Silva)

Deixem os mortos, eles não se levantam mesmo
me diz pela boca e narinas
o poeta Bob Dylan.
Mas os mortos se levantam sempre
( alguns sequer se deitam )
atravessam o ritmo das culturas
requentam o mormaço dos remorsos
azedam o estio das paixões.
A cada notícia da violência
de todos os dias
um morto toca a tua fronte
outros erigem monumentos a outros mortos
comandam exércitos
impingem o hálito podre às narinas indefesas
hipnotizam auditórios
disparam carros
abortam utopias
escrevem em jornais.
Difundir a morte
é a sua alegria
no seu ofício trabalham
noite e dia
e não se cansam
jamais

Madalena Sem Panos (Nauro Machado)

O morto requer precisa
de espelho para o seu rosto.
Nenhum espelho dispõe
dos olhos já tão translúcidos

do morto. Do morto que, além,
destituído de corpo,
jamais precisa de corpo,
jamais precisa de espelho
para olhar sequer seu rosto.

Todo dia é dia D (Torquato Neto)


Desde que saí de casa
trouxe a viagem da volta
gravada em minha mão
Enterrada no umbigo
dentro e fora assim comigo
minha própria condução
Todo dia é dia dela
pode não ser pode ser
abro a porta e a janela
Todo dia é dia D
Há urubus nos telhados
e a carne-seca é servida
um escorpião encravado
na sua própria ferida
não escapa, só escapo
pela porta da saída
Todo dia é o mesmo dia
de amar-te, amorte, morrer
Todo dia menos dia
mais dia é dia D

Véspera do dia dos mortos (Luís Antonio Cajazeira Ramos)


Eu não amei meu pai como devia.
Houve o dia de amá-lo e não o amei.
Ele morreu, e não nasci ainda.
Amanhã levantei sem seu amor.

Nenhum conselho amigo soa seu.
Uma vida padrasta me acompanha.
Meu caminho não quis olhar pra trás.
Tão longe de meu pai me abandonei.

Nem meu, nem de ninguém, nunca fui seu.
Não me quis dar a quem eu estranhava.
Só teu colo, mamãe, era aconchego.

Do pai, resta-me um calo de silêncios.
Ai, arranco do peito o corpo estranho.
Coração, cava o chão, busca meu pai.

Os mortos riem...(Robson Sampaio)

No Dia dos Mortos,
os mortos riem do choro
e das rezas dos vivos,
lamúrias perturbadoras
da paz e do silêncio
do Campo Santo.

Os mortos riem tal qual
hienas: sorrisos permanentes...
Mas, os vivos choram e choram,
rezam e rezam, enquanto os mortos
riem, riem e até gargalham...

Os mortos riem,
no Dia dos Mortos, ou não.
Tal qual hienas: sorrisos permanentes,
escárnio dos vivos-sobreviventes e mortos-vivos,
rotina da vida eternamente...

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