sábado, 30 de janeiro de 2010

A Síndica das emoções subliminares José Edson dos Santos



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Depois do café apressado no Grão de Pólen, do cigarro sedentário fumegado no preâmbulo matinal, da hipocondria que teimava em ficar remoendo um fatídico filme familiar, entro no elevador sozinho e deparo com Arlete, a síndica do prédio, como se estivesse substituindo a assessorista de minhas emoções subliminares. Ela se posiciona em minha frente dominadora para sussurrar próximo da orelha onde ostento um percing colocado por Eva Célia. Ontem a noite foi porreta, ela diz com a voz de Salomé, acionando o botão da porta impaciente. Fico encabulado mais ainda consigo contrapor com certo cinismo:

- Arlete, sua ninfomaníaca, assim você me maltrata. Tenho que voltar ao trabalho...

Com Arlete não há razão para preliminares de sutilezas do cama, mesa e foda. O abraço afoito, o beijo úmido e ardente, o desejo estampado nos olhos de lince faminta como se fosse a assessorista de minhas perversões sadomasoquistas. O trabalho na Gazeta da Asa Norte que aguarde a entrevista que faria com o Renato Matos sobre Olhos D'Água, amanhã entrego no meu horário adicional. "janeiro seria breve demais ou será mais verdadeiro?"

* Martha Medeiros, em Cartas Extraviadas. L&PM Pocket, 2009.

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