terça-feira, 30 de dezembro de 2008
O Champanhe - Adrino Aragão
Anton Tchekhov
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Poesia sutil de Priscila Figueiredo
http://blog.comunidades.net/galeria/srmoranguita8477...
Priscila Figueiredo fez Letras na USP e mestrado na área de literatura brasileira, sobre o livro de Mário de Andrade Amar, verbo intransitivo. A dissertação veio a ser publicada, em 2001, pela editora Nankin. Escreveu vários artigos para revistas e jornais, como a Folha de S. Paulo, onde foi, por quatro anos, consultora de português. Foi co-editora da revista Rodapé, voltada para a crítica de literatura brasileira contemporânea. Participou do Cálamo, grupo surgido em fins de 1990 a partir das oficinas literárias da Casa Mário de Andrade, integrado por pessoas de diferentes formações interessadas em produzir e discutir literatura. Desde 1998 trabalha na TV Cultura como assessora em língua e literatura, produzindo análises de poemas e canções para a seção "ponto.compoesia", do site de educação, e colaborando na pauta e redação do programa "Nossa Língua Portuguesa". Atualmente faz doutorado na USP sobre Macunaíma.
“Sutil, inteligente, reflexiva e de uma delicadeza pontiaguda” é a definição da poesia de Priscila Figueiredo para Reynaldo Damazio, da Unimarco Editora, para quem a autora apresenta uma visão interessante da literatura. Mas é a ironia e o tom satírico que marcam a atual fase de Priscila, que escreve poemas há 20 anos. “Já passei pela fase de poemas místicos, líricos, até atingir um ponto mais consistente, atualmente, com uma fase satírica”, disse ela.
é incrível
minha mãe é cobradora
de ônibus e anã
ela fica sentada ninguém nota
com catraca eletrônica
a gente está perdida
no olho da rua
a gente vai comer o diabo
todo mundo vai saber
que minha mãe é anã
e pobre
a mão invisível só atrapalha
o único emprego que esconde minha mãe
é o de cobrador ela fica sentada
ninguém vê ou tem tontura
porque suas mãos grandes e rápidas
pegam o dinheiro e o contam e o recusam
quando ela não pode dar o troco
são mãos que não trazem perigo
esse trabalho era mesmo muito bom
porque a gente só podia ver as mãos dela
agora essas mãos andam em companhia do corpo
e vão lhe dizer: “Olhem com quem andam!”
O corpo da minha mãe não é estável
Tatu-bolinha
Você se eriça
Luta de Classe I
Jandira insiste com a creolina
que a tudo corrói, limpa e higieniza
Jandira, até minhas tripas?
Depois pego Jandira na despesa
devorando mexericas quase podres
arrastando no chão sujo a bunda e o avental
praticamente novo
Jandira
na geladeira
o melão partido
a alface crestada
o molho branco destampado?
Jandira diabólica
trepa na minha vista
arreganha os dentinhos
criada surda curda fula
Jandira enfia no meu cu
o avental a creolina as cascas
eu engulo mais essa
fedentina de mexerica porcaria
dessa empregada
mole e revoltadinha
que empesteia de mexerica
toda a minha casa
toda a minha cozinha
Amor Imposível
Andréia é louca por melancia, manga e goiaba
mas Andréia tem grande preguiça
de comer melancia com tantas sementes!
Para Andréia, não há graça
em comer manga com faca
(e comer manga sem faca
é mesmo uma desgraça)
Andréia também não come goiaba
porque diz ela, são tantos os bichos...
Apesar disso
Andréia é louca por melancia, manga e goiaba
Canto da Sereia
Meu querido
este umbigo que vês
é o seu tanto soturno e pequenino
mas é odre de almíscar
celeiro de tigres
terra da Úmbria
é ainda
cantil de poeira
boca sem visgo
minha cicatriz mais triste
possa tua língua
escovar bem fundo
esse poço sem limo
este ponto de fuga
esta galinha morta
encruzilhada suja
em que se enruga
toda a Terra, toda a carne:
pelo ralo
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Poemas de Robert Frost
Duas estradas num bosque amarelo divergem:
triste por não poder seguir as duas
sendo um só viajante, muito tempo parei
olhando uma delas, até onde podia alcançar,
pois atrás das moitas ela dobrava.
Então tomei a outra que me pareceu de igual beleza,
uma vantagem talvez oferecendo
por ser cheia de grama, querendo ser pisada:
embora neste ponto o estado fôsse o mesmo
e uma, como a outra, tivesse sido usada.
E naquela manhã todas as duas tinham
folhas ainda não escurecidas pelos passos.
Ora! Guardei a primeira para um outro dia!
Mas sabendo como uma estrada leva a outra,
duvidei poder um dia voltar!
Contarei esta estória suspirando,
daqui a séculos e séculos em algum outro lugar:
duas estradas, num bosque, divergiam
e eu tomei a que era menos frequentada
e foi isso a razão de toda a diferença!
Nossa Posse do Planeta
Pedimos chuva. Não houve relâmpago nem trovão.
Não houve um vendaval. Não houve incompreensão
nem nos deram mais do que pediramos
e só por havermos a chuva pedido
não nos castigaram com enchentes e calamidades
ganhamos, isso sim, um bom aguaceiro.
Que pudemos então p'ras sementes usar.
E depois veio outro, e depois outro ainda,
para o solo esponjoso bem fértil tornar.
Podemos duvidar da justa proporção entre o bem e o mau.
Na natureza há muito contra nós, mas há o que esquecemos:
se tomarmos a natureza como é desde o início dos tempos
incluindo o ser humano, na paz e na guerra,
veremos haver algo bom a favor dos homens,
talvez uma fração de um por cento pelo menos;
ou o número dos vivos não viria crescendo sempre
nem nossa posse do planeta teria aumentado tanto.
(pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Frost)
sábado, 13 de dezembro de 2008
Nefelibata / A Sopa e as Nuvens
http://tapostado.wordpress.com/
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Teatro de Animação - Ana Maria Amaral
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Bachelard e Monet: do Olhar à reflexão - José Américo Pessanha
http://images.google.com.br/image
Investigador das duas vertentes da imaginação – a imaginação científica e a imaginação artística -, Gaston Bachelard (1884-1962) reavalia o papel do olhar na construção do imaginário. Denuncia o ocularismo da cultura ocidental e mostra que o vocabulário básico da ciência e da filosofia está marcado pela hegemonia da visão. O “novo espírito científico” exige, porém, o reexame do pressuposto ocularista, que tendera a fazer da realidade um espetáculo a ser contemplado: o fenômeno não é mais propriamente “descoberto”, antes “inventado”, subentendendo uma fenomenotécnica, que revaloriza a noção de manualidade.
Bachelard mostra a existência de uma imaginação material ao lado da imaginação formal, baseada na visão. A imaginação material resulta de nossa inserção enquanto corpo no corpo do mundo e alimenta um imaginário que trasparece sobretudo nos devaneios, na arte, na filosofia. Esse imaginário resgata o valor da “mão que sonha” e produz realidades artísticas, quer movida pela vontade de criar que a leva a enfrentar a resistência do mundo (na escultura), quer gerando novas realidades por meios “alqímicos” (na gravura, na pintura).
Claude Monet (1840-1926) é interpretado por Bachelard. Monet – “é apenas um olho, mas que olho!”, exclama Cézanne – é talvez o maior dos impressionistas. Pinta paisagens, tentando captar o percurso do tempo pela captação da luz de cada instante. E pinta reflexos de paisagens em águas tranqüilas ou encrespadas. Parece passar do instante do olhar da reflexão, ali onde arte e filosofia se aproximam na fronteira entre o fugaz e o permanente. ( Texto extraído de O Olhar. Funarte/Núcleo de Estudos e Pesquisas, 1988 )
sábado, 22 de novembro de 2008
White Album - The Beatles
http://www.beatleshp.com
The Beatles, ou White Album, é o famoso Álbum Branco, lançado em Novembro de 1968, que entrou para o Guiness Book como o disco que mais vendeu nos EUA em uma semana (pouco mais de 2.000.000 de cópias), façanha tamanha só para os Beatles. Pela 1ª vez crítica e público aceitaram que as músicas eram individuais, sendo que isso já era notado desde os primeiros trabalhos da banda. Um fato curioso é que as baterias de 3 músicas deste disco são tocadas por Paul. São elas Back In The Urss, Dear Prudence e Why Don't We Do It In The Road, em que Paul tocou todos os instrumentos - isso aconteceu porque o Ringo tinha resolvido sair da banda por achar que não estava tocando bem, mas depois de insistentes telefonemas dos outros 3 ele resolveu voltar ao conjunto. Paul McCartney estava no auge da sua fase folk rock nos Beatles, ele fez músicas como Rocky Raccoon, Blackbird, Mother Nature's Son, e I Will, mas McCartney é McCartney, ele também surpreende com as pauleiras como Back In The USSR, hit digno da coletânea azul, Birthday, e a canção que muitos consideram como o primeiro Heavy Metal da história: Helter Skelter, uma porrada na orelha com aquele vocal rouco que só o Paul consegue fazer. Mas não poderiam faltar as baladas: Martha My Dear, com uma bela execução de piano a cargo de Paul, Ob-La-Di,Ob-La-Da, muito bacana e divertida, além de Honey Pie (lembrando aqueles jazz dos anos 40).
George Harrison pela 1ª vez conseguiu emplacar um hit nas paradas, com a belíssima While My Guitar Gently Weeps - uma das melhores músicas de George e dos Beatles, que conta conta com um belíssimo solo de guitarra a cargo do guitarrista Eric Clapton (ele fez a guitarra chorar). Em Piggies mais uma vez George atacou de político e também conta com um belíssimo solo de cravo e o clássico final com George dizendo ONE MORE TIME. Savoy Truffle é uma música mais soul rock com direito a solo de sax e um belo solo de guitarra no estilo George; uma curiosidade é que essa música foi uma homenagem que George fez a Eric Clapton, pois Clapton, segundo George, adorava doces principalmente trufas.
Lennon também foi brilhante, deixando clássicos como Sexy Sadie, feita para o pilantra do Maharishi, o guru indiano que roubou os Beatles até eles perceberem; Dear Prudence, Glass Onion, I'm So Tired... John mandou muito bem neste disco, mostrando que pode ser tão versátil como McCartney, fazendo baladas como Julia - uma melodia triste, mas muito bonita - até louqueiras como Everybody's Got Something To Hide Except For Me And My Monkey, e seu poderosso Yer Blues, Happiness Is A Warm Gun, com um ritmo complexo no meio da canção e os vocais lembrando Paperback Writer. Revolution 9 não passa de uma colagem de efeitos com vários loops de efeitos com o desfecho de "We Want Mary Juana, We Want Mary Jane"; e por falar em Mary Jane, What's The New Mary Jane ficou de fora do álbum branco por ser muito anti-comercial, assim como a Psicopauleira "Not Guilty" de George, que só foi lançada 10 anos mais tarde. Realmente George era um cara que sentia a música quando tocava riffs poderosos... gênio. Ringo conseguiu ter um ótimo desempenho como instrumentista - em Helter Skelter ele esmurrou os pratos como eles mereciam ser esmurrados, suas levadas estavam muito mais trabalhadas. Ele havia realmente evoluído como instrumentista. Como compositor, Ringo contribuiu com Don't Pass Me By. Pois bem está aí e como McCartney costuma dizer a quem fala mal do álbum branco: "It sold a lot, it's the bloody Beatles White Album... Shut up".
sábado, 8 de novembro de 2008
Reflexões Sobre Duchamps - Jasper John
Marcel Duchamp(O Grande Vidro - a noiva desnudada pelos celibatários)
http://myamagawa.blog.uol.com.br/arch2007-02-29_2007...
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Cristina Bastos
http://www.overmundo.com.br/perfis/cristina-bastos
Companhia dos Ratos
Há um rato
devorando meus livros
ouço-o
não o mato.
Mora na estante
dos livros imaginários
ruídos
deixo que ele habite
por indecisão
em destruí-lo,
como eu
se alimenta de letras
e riscos
Qualquer Coisa
Vasa pela fresta
do vaso quebrado
o verbo,
não carece mais
que um insípido objeto
para ser
verso
transbordante
XXI
Artaud
volto a fazer teatro
a escavar no fundo
a gesto de cada ato
A andar nua
na sociedade de trapo.
Verso bailarino
Poemas que dançam
são etéreos
preferem
não ser impressos
valsam
sugerindo.
Decerto Deserto I
Há cactus
há dias
firo meus pés.
Borboletas
me fazem rir
são descaradamente belas
Como podem...
Como pólen
e sou quase
coisa bela.
Com meu cajado
sou grande
quase o deserto,
para o deserto
sou quase
borboleta bela.
Aceito
Se estranha a teia
assimilo o asco
do desconhecido,
aranha enorme,
uma batalha disforme
entre verbo
e a garra do instinto
Nua
A máscara está deposta
desconhece-me
eu sei sobre seu espanto
certamente
não será a última,
já tendo me despido
esqueço-a,
máscaras morrem
quando postas sobre a mesa.
terça-feira, 7 de outubro de 2008
Demorô: Poemas de Paulo Kauim
é
meu poe
rimbaudelairezrapoundonnepittalurgregório
meu mário de sá carneiro
meu mário de andrade
meu mário faustino
gabrielbecruzesousândradécio
meu pai
é
meu mallarminskilkerry
meu maiakóvskikaq
haroldoaugustodosanjosdecamposwaldrummond
é bandeira
é quintana
ferreira
é
cabral
cassiano
caixeta
ele é minha muna
ele é minha pagu
meu pai
é
meus paes
meu pai
é
seu severeino
seu
biu
a língua de joão
não é de cão
da arcádia
a língua de joão
é espessa ( de
cadela pernambucana )
ele é o embaixador
da palavra
pregada na página
aprendo com João
a ser
oceano e sertão
não há plumas em cabral
há lama e urina
ele é o rio
miró de caruaru
é severino e servilha
joão
rosa da zona
da mata
do galo
era cabral
sem fios
de sol ( ou cordel )
para tecer
a manhã
resolvemos
comê-lo
a palo seco
pele de leopardo
e roupa de rapsodo
ao dorso
de
lira
pela
L2
pela
lexington
pela
palafita
tristesourinha
hermes
exu
de macapá
de manhattan
de macaparana
junkie sem vapor
sem beque
sem papelote
ginsberg uiva
renato urra
donne pita
arauto torto
da norte
michê mitsubische
conic-me
sou zé edson
em logopéia sobre a plataforma
da rodoviária do plano piloto
crepes camburões
o poeta diante das varizes do papel
diante do inabitável vazio do pós-humano
ela: asa norte
dia cabral
noite duchamps
eu: zé edson
poeta-antena
de um tempo tracajá
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
4 Contos de Paulo Siqueira
www.ibiblio.org./.../matisse.lecon_musique.jpg
RAIMUNDO
Lascado, jogado no ermo, sem dar conta de como viera parar ali, corpo murcho, coração ressecado, achava que precisava de Deus, um deus que explicasse o porquê de ele estar naquela danação. Construir um destino, uma história. Já umas não-sei-quantas facadas no bucho de fi-duma-égua de todo jeito, quantos modos de se arranjar entre o norte do Goiás e o Maranhão, e agora atirado no oco, numa Brasília erma em que só um corno desgraçado ia gostar de morar, querendo dizer para si mesmo que não foi ele quem matou, não foi ele quem inventou tanta morte.
LIVROS
Só ela, a organizar os volumes, limpá-los, registrar, catalogar; a pobreza da pequena escola, a falta de títulos interessantes, tudo emoldurando os gestos da mulher, isolada, traçada ali, sem dizer palavras, sem reclamar com palavras; seu corpo, seu todo era clamor; uma caixa grande de papelão, uma lata de thinner, uma flanela; não regia mais os movimentos nem se preocupava com a qualidade de serviço. Parou de passar álcool nas capas, começou a rasgar páginas, embolá-las e jogar dentro da caixa, que se encheu; inclinou-a um pouco e sem muita dificuldade foi entrando, aninhando-se, esticando o braço para apanhar o thinner, derramando-o sobre o papel, sobre o corpo, empapando o vestido, até esvaziar o frasco; depois o isqueiro.
SONHO
Céu brumoso e a montanha azul, paisagem-painel de Kurosawa, pano bordado imenso, flores árvores pássaros de tecido-céu da cor depois de grande chuva, tempo-manto-gabbeh se dizendo qual tudo desabrochasse por si, Sebastião, o tio andando comigo dentro da paisagem, falando do amor que a morte levara seu muito novo, toda flor folha céu muito exato-claro-sonoros – como se deus presenteasse o diaespaço, qual Modigliani, Matisse, digo Cézanne ou Gauguin.
LÂMINA
O gosto da lâmina banhada no sangue,um reluzido pouco na região aonde o vermelho não chegava,um vermelho querendo ficar preto, vacilando, quase seco, o paladar da faca repetindo-se nos dentes, amargo raro, desnatural, revirando o estômago; a treva nas vísceras, sol de culpas,céu seco, silêncio, o eco do silêncio, o corpo mastigado pela noite e cuspido no dia,igual o de um cão sem nada;despir-se daquele manto – como? nuvens estrelas galáxias manchadas pelo sangue endurecido, sangue impensado, cor sem termo,o sem-nome, corpo pensado pela faca, o gosto do osso que recobria o cabo habitando sua boca, a imagem da lâmina mordia pelo ventre do outro valsando no palato, esfaqueando-o, o morto carregando-o em um andor, flores de todas as formas, matizes de dor.
terça-feira, 2 de setembro de 2008
Feminismo Pós-Moderno - Eleanor Heartney
Toda violência é a ilustração do estereótipo patético...Barbara Kruger
bitaites.org/livros/a-ironia-das-palavras-est...
Para compreender o processo pelo qual nossas visões de feminilidade são produzidas, as teóricas feministas voltaram-se para a psicanálise. Sentiram-se particularmente atraídas pelos escritos do psicanalista francês Jacques Lacan, que conferiu à teorias freudianas do desenvolvimento infantil um movimento pós-estrutural. Segundo Lacan, o inconsciente é estruturado como uma linguagem. Ele reescreveu O Complexo de Édipo em termos de relações de signos e significantes. O pai, que interrompe a identificação total do bebê com a mãe, torna-se, em Lacan, o Nome-do-Pai ou a Lei. É o representante da ordem simbólica, o mundo da linguagem em que a criança deve entrar para se tornar um membro da sociedade. Mas como a linguagem é sempre uma questão de significados aprovados e significantes desconectados de seus signos, a criança ao adquirir a linguagem perde a noção da totalidade que desfrutava em seu estado pré-edipiano. Portanto, os humanos são eternamente assediados pela noção da “falta”, e anseiam pela união rompida com o que a criança imaginou ser sua todo-poderosa mãe. Para Lacan, essa “falta” é a chave da psicologia. Ela inicia uma busca de substitutos que possam ocupar o lugar da chamada “mãe fálica perdida” (noção aparentemente contraditória que reflete a transformação lacaniana do falo para o significante de poder). Esses substitutos, conhecidos como fetiches, são objetos ou imagens (ou, em termos pós-estruturalistas, significantes isolados) em que os indivíduos carentes se fixam para abrandar um desejo impossível.
Não se pode deixar de perceber que tudo isso enfoca a formação do desejo masculino. É aí que entra a teoria feminista. Em um ensaio de grande repercussão e influência intitulado “Cinema Narrativo e Prazer Visual”, a teórica Laura Mulvey aplica a noção de fetiche à teoria do cinema. Ela argumenta que o cinema de Hollywood é estruturado em torno do olhar masculino. Supõe a existência de um espectador homem que transforma as mulheres em fetiches, ou da temida, mas desejada, “mãe fálica perdida” com a intervenção do pai ou da mulher castrada. Essa última é um artefato simbólico, cujo estado reduzido lembra ao homem a ameaça que a castração faz ao seu próprio poder. Portanto, ela é a figura que ele tem de subjugar para recuperar o domínio sobre o mundo.
Em seu extremo, o feminismo pós-moderno assumiu um tom puritano. As feministas do First Wave Feminists, que tinham celebrado a sexualidade feminina e expostos publicamente o seu próprio corpo nu, quase sempre voluptuosos, foram criticadas por fazerem o jogo das estruturas de poder patriarcal. As feministas pós-modernas, na tentativa de destruir o prazer estético que satisfazia os homens as custas das mulheres, muitas vezes perseguiram uma forma de iconoclastia, escolhendo trabalhar com as imagens de mulheres na mídia de uma maneira que reduzia o seu poder de sedução. Optaram por evitar representar o corpo feminino completamente baseadas na teoria de que qualquer forma de representação perpetua a objetificação da mulher.
Umas das artistas mais influentes nessa linha foi Bárbara Kruger. Como diretora de arte na década de 70, Kruger elaborou layouts para as revistas femininas da Conde Nast. Desenvolveu habilidades gráficas que empregou em seu trabalho de arte subseqüente, e uma noção que como as revistas manipulam seus leitores por meio das imagens. Como ela observou, “é dever da revista tornar você a imagem que ela faz da própria perfeição”.
Em sua arte, Kruger justapôs textos e descobriu ou criou imagens fotográficas de uma maneira que subverteu as convenções da mídia. Fragmentadas, removidas de seu contexto original e reproduzidas em preto e branco, as imagens estavam abertas a novas interpretações. Essa foram supridas pelos textos rigorosos lançadas como bandeiras de publicidade pelas imagens. Esses textos assumiram o tom autoritário da publicidade convencional, mas Kruger sutilmente manipulou a voz, invertendo a ordem em que o macho dominante fala como uma fêmea submissa. Neles, a voz é de uma mulher se dirigindo a um homem sobre as condições de suas desigualdades, mencionando que Seu olhar bate no meu ou anunciando Nós não seremos mais vistas nem ouvidas. Na última obra, Kruger combinou cada palavra com a sua tradução na linguagem dos mudos, sugerindo que, apesar de sua supressão, as mulheres encontrarão uma linguagem com que se comunicar. (Trecho extraído do livro Pós-Modernismo, de Eleanor Heartney. Ediotra Cosac & Naify. São Paulo, 2002.)
sábado, 30 de agosto de 2008
"A arte é a definição de arte" - Joseph Kosuth
David Beckham de Lagrenné
http://www.worth1000.com/cache/gallery/contestcache.asp?contest_id=3253&display=photoshop
sexta-feira, 22 de agosto de 2008
Poemas do Zoo Inconsútil- José Edson dos Santos
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
Poemas de Carla Andrade
http://www.algumapoesia.com.br/
Como hipnotizar anzóis no tempo
Enfeitice
peões de mulheres
fantasiadas de nós
em chuvas
musicadas ao avesso.
Trance
o destino
bem acima
da última curva
dos ventos.
Liberte
o tropel de
tangos
das vertigens
adormecidas
em sonetos.
E por último
faça um agrado
como um sopro divino,
aos ogros verdes
da saudade.
Se tudo
resultar em nada
descanse os olhos
nas estrelas
aliviadas de brilho
sem respostas.
Jardim dos elos
Tento contar quantas
(tantas) borboletas
há em você.
Inquietas,
de cores extintas
sem sensores.
Mas aí, vêm seus grilos
de ressaca de breu
- não se calam,
(me confundem).
E há também libélulas,
a emudecer o silêncio
dos grilos com voz
de reticências,
pétalas.
Existe você
castelo de torre,
espera.
No calabouço, serpente,
botes de palavras.
Palavras...
Não sei contar
grilos,
borboletas,
libélulas.
Mas aprecio
o mistério da
dança das asas
sem norte.
Mural dos deuses
Neste nenhum
trocadilho da alma
há insônia de Baco.
Há o profano em
células,
cume de ossos,
em câncer,
trópicos.
O eterno na esquina,
no tráfego das mãos,
na romaria de dúvidas.
O fogo de cupim:
no celebro e sexo.
Há babas no mar
em despedidas de trovões
ressaca de barcos
no veludo de vozes.
O humano a se render.
Nos homens, a morte
imersa na arte.
Léxico dos deuses
Sopro com sede
No inferno.
Nos homens,
a pitada da ironia:
ser divino em pele de fungos,
em bactérias de dor,
em cascas do tempo.
quinta-feira, 14 de agosto de 2008
SOLARIS
P r o j e t o P o r t a l
A revista Portal Solaris — primeiro número do Projeto Portal, coordenado por Nelson de Oliveira — traz contos inquietantes que vão do universo da ficção científica ao do fantástico, passando pelo da fantasia.
São catorze narrativas sobre novas tecnologias, viagens no tempo, ciberespaço, telepatia, contatos imediatos do terceiro grau, pós-apocalipse, pós-humano, utopias e distopias, de dez autores contemporâneos de sete Estados brasileiros.
O Projeto Portal prevê seis números, com periodicidade semestral. Cada número homenageará, no título, uma obra célebre da ficção científica: Solaris, Neuromancer, Stalker, Fundação, 2001 e Fahrenheit.
Os contistas da Portal Solaris são: Ataíde Tartari (SP), Carlos Emílio C. Lima (CE), Carlos Ribeiro (BA), Geraldo Lima (DF), Homero Gomes (PR), Ivan Hegenberg (SP), Luiz Bras (MS), Mayrant Gallo (BA), Roberto de Sousa Causo (SP) e Rogers Silva (MG).
P o r t a l S o l a r i s
revisão: Mirtes Leal • diagramação: Raquel Ribeiro
capa: Teo Adorno • formato: 16 x 23 cm
impressão: uma cor • tiragem: 200 exemplares
oliveira.e.cia@uol.com.br
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Eber birthday
Bruce Willis de Van Gogh
http://www.worth1000.com/cache/gallery/contestcache.asp?contest_id=3253&display=photoshop
Eber
José Edson dos SantosComo perceber esse lobo bobo dos quarenta?
Como não enquadrar a lupa da sugesta
na alcatéia da Buena Vista Mallatesta?
Desarvorar na lente notívaga em dia de festa
Certamente uivando cerveja de seresta
A noite sutil perdoa quem não presta
na floresta midiática de ser a sua orquestra
Perceber
Eber
na foto do lobo que ostenta
algum vacilo algum cacoete
Depois disso tudo o farolete dos anos na testa
Onde dorme na indigesta ilharga a sonsa do falsete?
Brasília caliandra astigmática do poente cerrado
Licor de pequi para curar o porre que ficou no Conic
Se para o bom entendedor esse toque
não bate com teu roque
Entra numas
Eber
quarta-feira, 23 de julho de 2008
terça-feira, 22 de julho de 2008
Dois Poemas de Antonio Barreto
Salvador Dali, A Persistência da Memória
COQUETEL MOLOTOV
(Receita Caseira Para Laboratórios Etílicos-Literários & Outros Movimentos Afins)
de mais valia
sentar na mesa
e pedir a dose
(No overnight da Poesia
uma garrafa é muito pouco
mas resolve)
no bar da esquina
Encher o tanque
enquanto pode
(A saltitante bailarina
só tem corda
até as nove)
numa farra
fechar o tempo
enquanto chove
(Nessa falta de futuro
a touca amassa
e a massa dorme)
tem um furo
o mundo gira
e não se move
(Se a coisa toda
for na marra
a barra é suja
mas envolve)
e você chora: I love! I love!
A Bomba Humana pira o punk
que trinca os dentes
num serrote
(Se a ressaca então
for transmutante:
Sal de Frutas com Engov.
O sal saliva, a língua assa
e frisa o verso mais picante)
e o palco aos poucos
descortina
O barulho ajuda
na fumaça
que saltar
da lamparina)
a cada dia dezenove
que um soneto não se arrota
se consome se comove
POÊMIOS
Os poêmios bebem a noite inteira
Quando já cansados de lero-lero
E assim se vão como bons meninos
E a poemada toda em algaravia
quinta-feira, 12 de junho de 2008
Bruce Nauman,
Anthro/Socio (Rinde Sppinning), 1992
Lúcia Santaella
Há muitas artes que são híbridas pela própria natureza: teatro, ópera, performance são as mais evidentes. Híbridas, neste contexto, significa linguagens e meios que se misturam, compondo um todo mesclado e interconectado de sistemas de signos que se juntam para formar uma sintaxe integrada. Nesse território, processos de intersemiose tiveram início nas vanguardas estéticas do começo do século XX. Desde então, esses procedimentos foram gradativamente se acentuando até atingir níveis tão intricados a ponto de pulverizar e colocar em questão o próprio conceito de artes plásticas.
São muitas as razões para esse fenômeno da hibridização, entre os quais devem estar incluídas as misturas de materiais, suportes e meios, disponíveis aos artistas e propiciadas pela sobreposição crescente e sincronização conseqüente das culturas artesanal, industrial-mecânica, industrial-eletrônica e teleinformática. Uma vez que a questão das hibridizações nas artes é muito vasta, selecionei para discussão três campos que me parecem os mais significativos. Primeiro: as misturas no âmbito interno das imagens, interinfluências, acasalamentos, passagens entre as imagens artesanais, as fotográficas, incluindo cinema e vídeo, e as infográficas. Segundo: as paisagens sígnicas das instalações e ambientes que colocam em justaposição objetos, imagens artesanais bi e tridimensionais, fotos, filmes, vídeos, imagens infográficas e ciberambientes numa arquitetura capaz de instaurar novas ordens de sensibilidade. Terceiro: as misturas de meios tecnológicos presididos pela informática e teleinformática que, graças à convergência das mídias, transformou as hibridizações das mais diversas ordens em princípio constituitivo daquilo que vem sendo chamado de ciberarte.
Antes de tudo, cumpre apresentar um breve retrospecto para caracterizar em que momento, no percurso da arte moderna, as misturas entre as imagens e meios começaram se fazer sentir de modo mais intenso.
No seu objetivo progressivamente perseguido de desconstrução dos cânones herdados da Renascença e de rupturas da dependência da imagem dos objetos do mundo, a trajetória da arte moderna se estendeu pelo menos, de Cézanne a Mondrian. Do século XV ao século XIX, pinturas, gravuras e esculturas, de um modo geral, “representavam o mundo, real ou imaginário, como consistindo em figuras distintas, bem definidas e reconhecíveis em um espaço tridimensional ampliado”.
Entretanto, desde finais do século XIX, as artes já haviam abandonado as estruturas de espaço e tempo, de movimento e ordem dos modelos visuais legados pela tradição. Desde que Cézanne começou a procurar as estruturas espaciais essenciais que estavam subjacentes às impressões visuais sempre mutáveis, deu-se por iniciado um itinerário crescente de implosão dos sistemas de codificação artísticos e mesmo de seus suportes e materiais, assim como modos de fazer arte.
Mondrian é paradigmáticamente apontado como encerramento de um ciclo porque, justamente com outros abstracionistas geométricos, levou a abolição do figurativo e a ruptura com a denotação referencialista aos seus limites, como se a arte moderna tivesse aí finalmente encontrado um destino cujos germens já estavam semeados em Cézanne. Ora, o fim do ciclo desconstrutor da arte moderna, seu ponto de chegada, coincidiu com o ponto de partida de um fenômeno que passou a marcar crescentemente os caminhos da arte : a explosão dos meios de comunicação e da cultura de massas no contexto de uma expansão tecnológica que não cessa de avançar.
Desde os anos 50, acentuando-se nos anos 60 e, mais ainda nos 70, sofrendo o impacto dessa expansão, os processos artísticos, a partir da Pop Art, por exemplo, começaram a apresentar processos de mistura de meios e efeitos, especialmente dos pictóricos e fotográficos. Fazendo uso irônico, crítico e inusitadamente criativo dos ícones da cultura de massa, deram continuidade à hibridização das artes já iniciada no Dada, hibridização esta que se intensificou na década de 70, quando as instalações e ambientes começaram a proliferar. De acordo com os teóricos da pós-modernidade, na década de 60, a arte moderna, já crepuscular, cedia terreno para outros tipos de criação, dentro de novos princípios que são chamados de pós-modernos. Ora, se há uma face proeminente nesses princípios, essa é a face das misturas, passagens, hibridizações entre artes e entre imagens: as passagens entre imagens; as passagens sígnicas das instalações e o hibridismo digital.
( Texto extraído do livro de Lúcia Santaella: Culturas e artes do Pós-Humano – Da Cultura das mídias à Cibercultura. Editora Paullus. São Paulo, 2004 )
sábado, 7 de junho de 2008
Menezes y Moraes
Poetas: José Edson, Ivan Monteiro e Menezes y Moraes
Jornalista, professor e escritor, nasceu em Altos João de Paiva, e vive em Brasília desde 1980. Ex-presidente do Sindicato dos Escritores do DF. Tem 10 livros publicados: um de contos, uma peça de teatro, e oito de poesia, entre os quais Na micropiscina da lágrima feliz (poesia) e Por favor, dirija-se a outro guichê (teatro).
A Hora da Existência Calma
Lentamente a tarde recolhe
o cenário do tempo
e a noite entra em cena
feito um grito que irrompe do silêncio
com suas estrelas salpicadas de infinito
nessa hora da existênciaflita
os corações dos vivos se agitam
Queremos morte ao cogumelo atômico
Procuro o inatingível nos teus olhos
para transformá-lo em guia
y meu abrigo
A vida é intransferível e não hesito:
em ti eu confio
Garças do Paranoá
Garças no Paranoá
dizei-me
águas mais poluídas?
Valei-me
Garças do Paranoá
quintal de poder
mais careado
Não há
Garças do Paranoá
que notícias me dás dos morto
do acampamento Pacheco?
Garças do Paranoá
valei-me
serei feliz?
À mim não importa
se o destino quis
ou não quis
Eu sou feliz
desde o instante
em que me quis
Nós
Marquei encontro comigo e cheguei atrasado
Mas esperei por mim até o limite do intolerável
E olhei dentro dos olhos
espelhos do azul multiplicado
e sorrimos enternurados
partilhando sonhos inventando outras cidades
Depois pegamos o chapéu do tempo o casaco da vida
e fomos à luta contra as tempestades
Corações enflorecidos gritam na madrugada
Aurora do ser queu buscava é o amor que me esperava
A Olimpíada do Amor
Amor sublime dor
O coração de quem ama é cama de campanha
quando o amor se equilibra
campo de batalha
na corda bamba
ringue das artimanhas
O amor organiza o tempo
Há quem pensa que o amor é profissão
O amor é fundamental
o Tao branco de lavanderia celeste
lava mais ternura no coração do agreste
brota lágrimas nos olhos de Deus
O amor move o vento o amor é ateu
Sacrossanto auto-estrada do pensamento
corre atrás vai à luta
o amor é leveza anti-força bruta
razão do sentimento
o amor é sacerdócio
o amor é pasta de grão de bico
no pão integral do tempo
O homem-sonho é conteúdo da semente?
O amor faz chover em Brasília
O amor tem a fórmula
anticárie-carência da existência
“o amor força as portas dos infernos”?
em noite cinza diz um poeta amigo meu
o amor é um bolero
Enquanto o ódio se amputa
e o homemáquina se estraçalha
o amor é do caralho
E mesmo que o homem se compute
e a vida se distraia
o amor detona o tédio nos campos de batalha
sexta-feira, 23 de maio de 2008
5 Poemas de PAULA TAITELBAUM
quasepoema.zip.net/images/taitelbaum.JPG
http://www.navevazia.com/trinta/2006/10/22_paula_taitel.html
PAULA TAITELBAUM, escritora, publicitária, jornalista. Nasceu na primavera de 1969 em Porto Alegre. Autora dos livros de poemas Eu Versos Eu (Fumproarte, 1998), Sem Vergonha (L&PM, 1999), Mundo da Lua (L&PM, 2002), Porno Pop Pocket (L&PM, 2004). Escreve para a Revista Estilo Zaffari e é colaboradora da Revista Claudia. Redatora Publicitária, Professora de Redação Publicitária da ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing. Trabalha também com desenvolvimento de projetos culturais.
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Ela pega a bolsa, ajeita a blusa e vai
Vai correndo pela rua feito um trem
Sem olhar para nada nem ninguém
Sem freio vai enfrentando o atrito do ar
Vai sem conseguir nem ao menos respirar
Ela só pensa em alcançar aqueles braços
Percorrer com a língua todos os seus traços
Vai correndo porque quer penetrar em outra pele
Falecer num gozo que a revele
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Ele gosta de mulheres com falo
no meio das falas
com palavras que pingam
e frases que entram rasgando
Ele gosta de mulheres que fodem
com as regras de gramática
que comem letras
quando estão gozando
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Silicone, espartilho
algemas e salto fino
tudo farsa
depois da festa
ela tira
o disfarce
desfaz a pose
e de posse
de seu pênis
de pilha
vai comer
a sua ervilha
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Na vulva vibra a larva
que logo será borboleta
sairá do casulo
vai virar uma boceta
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Desenhe círculos
sobre meu clitóris
infinitos pontos finais
um para cada um
dos meus ais
quarta-feira, 14 de maio de 2008
ANTONIN ARTAUD
Daniel Lins
Onde cheira à merda
cheira a ser
O homem podia muito bem não cagar
não abrir a bolsa anal
mas preferiu cagar
Assim como preferiu viver
em vez de aceitar viver morto
(...) aceitou viver sem corpo
quando uma multidão
descendo da cruz
à qual deus pensou tê-los pregados há muito tempo,
se rebelava
e armava com ferros, sangue,
fogo e ossos
avançava desafiando o Invisível
para acabar com o JULGAMENTO DE DEUS.
Mas vivenciar é também experimentar pensamentos nômades, produzir uma escrita das vísceras, elaborar conceitos grávidos de acontecimentos e trabalhar com citações inseridas no universo da contaminação e não da cópia, criando assim uma nova linguagem que cheira à vida, com suas impurezas, sujeiras, e que, de deslize em deslize, fabrica uma “enorme fábrica de carne” engendradora da merda necessária para desenhar na folha branca a escrita saída das pedras. Pedras dos rins, da vesícula, da verga enrijecida: verga dor, verga-ensangüentada, priapismo cristão, ereção dolorosa e perpetuamente mantida. Pedra do ânus, ventosa vaginal, grande boca devoradora do sol; absorção, expulsão, orgasmo sem queda, grito condenado à sua própria jubilação, sem recaída nem final possível. Pedra como passagem que bloqueia os orifícios da vida – vagina, clitóris, vagina,cu, por onde o devir-cocô e o devir- Ser encontram sua singularidade regida por uma lógica do múltiplo sentido: “A merda nasce no cérebro, o Ser e o cocô são a mesma coisa, que carregam em si, com sua parte maldita, sua própria morte”. Para Artaud, “Viver é eternamente sobreviver remastigando seu eu de excrementos, sem nenhum medo de sua alma fecal, força que tem fome de enterro.
Mergulhador de mares e lagos profundos; mergulhador da essência radical, sob suas formas trágicas e absolutas, Artaud impõe à escrita o corpo a corpo, o “encontro marcado”, que significa também, em grego, encontro amoroso com a matéria, com a “linguagem matéria”, matéria que pensa, numa bacanal à qual não faltam nem as orgias escatológicas da “Festa de Deus”, selvagem e cruel, onde esperma e excremento se mesclam a Eros e Tanatos, nem uma ponta de revolta necessária à erotização da palavra e da criação literária, erotização-morte, morte que rima com amor. Artaud queria o corpo perfurando a língua, trespassando-a por confrontos hipersexuais – Heliogábalo – ou mágicos - Taraumaras -, executando, se necessário, uma espécie de esmagamento da carne e doa intestinos para chegar ao corpo da língua e da escrita: “Fui obrigado a cagar sangue pelo umbigo para chegar ao que almejava”, declara Artaud. Para ele, observou Anaïs Nin, “escrever também é doloroso. Só o consegue de maneira espasmódica e com grande esforço”. (Extraído do livro de Daniel Lins, Antonin Artaud: O Artesão do Corpo Sem Órgãos. Editora Relume Dumará. Rio de Janeiro, 1999. p.7-8-9)
segunda-feira, 5 de maio de 2008
BERTOLD BRECHT
e são bons;
e são melhores;
e são muito bons;
NA MORTE DE UM COMBATENTE DA PAZ
O Vosso tanque General, é um carro forte
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