sábado, 8 de novembro de 2008

Reflexões Sobre Duchamps - Jasper John



Marcel Duchamp(O Grande Vidro - a noiva desnudada pelos celibatários)
http://myamagawa.blog.uol.com.br/arch2007-02-29_2007...

Pouco depois de sua morte, houve aquelas entrevistas publicadas em em duas revistas de arte. Quase no final de uma delas, Duchamp disse: "Não sou nada além de um artista. Estou confiante e encantado em sê-lo." A outra entrevista terminava assim: "Oh, sim. Ajo como um artista embora eu não seja um." Pode haver alguma malícia nessas descrições contraditórias ou, talvez, certa falta de vontade de considerar qualquer definição como sendo conclusiva.

Uma fascinação com as tentativas de todos os estados-de-coisas era refletida pela manipulação indiferente que Marcel fazia de valores e definições ligados a obras de arte. Ele foi o primeiro a ver ou dizer que o artista não tem total controle das virtudes estéticas de sua obra, que outros contribuem para a determinação da qualidade. Ele perecia imaginar a obra de arte como envolvida em uma espécie de reação em cadeia até que fosse, de algum modo, capturada ou parada, fixada pelo "verdadeiro final" da posteridade. Essa preocupação com coisas se movendo e paradas - exemplificada em sua obras Nu descendo a escada, A passagem, Três medidas padrão, os "pistons delineados" e a poeira fixada no Grande vidro, os Rotorrelevos etc - focaliza as alterações de peso das coisas, a instabilidade das nossas definições e medições.

O readymade foi movido mentalmente e, depois, fisicamente, para um lugar ocupado previamente pela obra de arte. As consequências desse simples rearranjo provavelmente ainda não se esgotaram. Mas por enquanto, o readymade parece permanecer naquele lugar, um exemplo do que a arte é, uma nova unidade de pensamento.

Trazer a dúvida para o ar que envolve a arte pode ter sido uma grande obra de Duchamp. Ele não parece ter exagerado nenhuma das condições para a arte, atacando as idéias de objeto, artista e espectador com igual intesindade e observando a sua interação com desprendimento e igual intensidade, nunca com qualquer demonstração física especial de otimismo, e com freqüência a partir de pontos de vistas conflitantes.

Mas Marcel nunca nos deixava seguro a respeito de qualquer afirmação que se fizesse sobre ele. Nunca reivindicou aquilo que deveríamos reivindicar para ele. (Reflexões Sobre Duchamp, de Jasper John, texto publicado em Escritos de Artistas Anos 60/70. Organização de Glória Ferreira e Cecília Cotrim. Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro, 2006)

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