terça-feira, 7 de outubro de 2008

Demorô: Poemas de Paulo Kauim


meu pai
é
meu poe

rimbaudelairezrapoundonnepittalurgregório

meu mário de sá carneiro
meu mário de andrade
meu mário faustino

gabrielbecruzesousândradécio

meu pai
é
meu mallarminskilkerry
meu maiakóvskikaq

haroldoaugustodosanjosdecamposwaldrummond

é bandeira
é quintana
ferreira

é
cabral
cassiano
caixeta

ele é minha muna
ele é minha pagu

meu pai
é
meus paes

meu pai
é
seu severeino

seu
biu



joão sem plumas

a língua de joão
não é de cão
da arcádia

a língua de joão
é espessa ( de
cadela pernambucana )

ele é o embaixador
da palavra
pregada na página

aprendo com João
a ser
oceano e sertão

não há plumas em cabral
há lama e urina

ele é o rio
miró de caruaru
é severino e servilha

joão
rosa da zona
da mata


o nome
do galo
era cabral

sem fios
de sol ( ou cordel )
para tecer
a manhã

resolvemos
comê-lo
a palo seco



zé edson

pele de leopardo
e roupa de rapsodo
ao dorso

de
lira
pela
L2

pela
lexington

pela
palafita

tristesourinha

hermes
exu

de macapá
de manhattan
de macaparana

junkie sem vapor
sem beque
sem papelote

ginsberg uiva
renato urra
donne pita

arauto torto
da norte

michê mitsubische
conic-me
sou zé edson
em logopéia sobre a plataforma
da rodoviária do plano piloto

crepes camburões
o poeta diante das varizes do papel
diante do inabitável vazio do pós-humano

ela: asa norte
dia cabral
noite duchamps

eu: zé edson
poeta-antena
de um tempo tracajá

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