terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

poesia joy

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Zé Edson, Ivan Monteiro e Menezes y Moraes




São José -Macapá/AP
























charge do Zé: Ravi Brito


JOSÉ EDSON DOS SANTOS

Nasceu em Macapá, no estado do Amapá, região amazônica brasileira e mora em Brasília desde 1974. É professor de artes cênicas no CEAN/ASA NORTE. Publicou em 1972 em Macapá, Xarda Misturada com José Montoril e Ray Cunha.Em 1978 participou da antologia organizada por Salomão Sousa, Em Canto Cerrado. Em 1980, publicou Águagonia. Ainda em 1980, Latitude Zero, com edição mimeografada por Paulo Tovar. Bolero em Noite Cinza foi publicado pela Da Anta Casa Editora em 1995. Participou de muitas antologias, inclusiva da célebre 27 Porretas. Alguns poemas desta seleção são inéditos e outros foram editados no Bolero em Noite Cinza e em Ampulheta de Aedo (Brasília: LGE Editora, 2005, com o patrocínio do FAC/SC/DF). Participou também de Todas as Gerações - o conto brasiliense contemporâneo – (Brasília: LGE Editora, 2006), organizada por Ronaldo Cagiano.

“O cultivo de uma postura maldita juntamente com o sestroso elogio à noite e seus personagens à margem das normas, imersos na singular atmosfera urbana brasiliense. Sem dúvida Zé Edson esmera-se em explorar estes temas e este clima.” (Francisco Kaq, Jornal de Brasília)

“Em José Edson dos Santos o poema se aparelha ao entranhamento, como um rouxinol soberbo em roupa inabitual, acamado de poemofilia incurável, noite necessária em pirilampos ébrios: lava-bala-vaga no horizonte lírico, donde o poeta -bacamarte em punhos- manda tiros de poesia ao infinito (Salatiel Ribeiro)

“Com José Edson dos Santos, entrelaçam-se forma e conteúdo na busca da irrupção das diferenças, do fascínio do novo. Assim “tua boca/ de tomate e vodca/ contrasta a tarde metódica/ a invadir a dialética dos sentidos”. E ainda o poema Meu Poetílico Pássaro Pirado Jasmim, que numa catarata de imagens, as mais diversas converte o irreal como único referente concreto. (Marcos Mota, Correio Brasiliense)

“José Edson dos Santos com o seu Bolero em Noite Cinza, traz a emoção da dança e a virtude da luz pelas frestas das portas. É sobretudo uma forma nova de encarar o mundo e de desvirtuar a realidade que tanto sufoca. Um instante de alumbramento. É a tarântula e sua teia saindo para a luz” (Fernando Canto)

“Bolero em Noite Cinza nos fala da modernidade poética, embalada numa estética do oleiro que conhece bem a forma a que pode chegar. Meu Poetílico Pássaro Pirado Jasmim e o Vampiro de Rapunzel são apenas dois exemplos colhidos no pomar da memória para ilustrar o que afirmamos. (Menezes y Moraes)

“Artista de linguagem ágil, capaz de captar a confusão das cidades e os rumores da vida noturna.” (Fernando Marques, Correio Brasiliense)

“Apesar de seu desterramento, o poeta José Edson dos Santos revela a veia telúrica e amazônica, mas em formatos urbanizados de criação. Linguagem célere, quase minimalista, entre o irônico e grotesco, de sua verve dramática e de black humour como em “Poética magra”: “No contracheque/ o sarcasmo do salário/ como mal-me-pague da educação popular/ / O que pode almejar o poeta/ professor ator/mentado do sonho/ pretextando outras manhãs/ com palavras por dizer/ ser um impróprio trocadilho?” (Antonio Miranda)


BAÍA DE MACAPÁ

O rio é uma imensa
boca
circundada de ilhas
barrancos
barcos de partida

O céu é uma imensa
porrada na cabeça

Tu adentras geografias
porfias de aventura

a vida velho
parece um ioiô

sempre arranja um jeito
de voltar ao ponto de partida

Retorno à amplitude
desta baía desde menino

O rio deixa a boca aberta
nesta lembrança sem navio

água louco do destino


SERÁ A BENEDITA?

Bendito
alfazema em tua rua morta

O jambo floresce na alameda
enquanto cão uivo à lua

Cogito
tema que tua janela anteceda
canção da porta sem tramela


NEFELIBATA
Sonheteiro nefelibata na varanda
contemplo nuvens do impalpável

Flibusteiro da fragata argonauta
vejo longarina vida singrando

Timoneiro da tormenta solerte
fito porto da morte de soslaio

Sinaleiro Juno do arrebol ausente
olho mundo como nuvem de maio


PEIXE AO FORNO WALLY SALOMÃO

Pesque pague poeta
um peixe Walter Benjamim
tempere com sal, salsa-merengue
Gabriela Mistral em maio
acrescente Shoio, picardia
páprica ousadia e chicória
antes de levar ao forno
até torná-lo tonitruante
tosco tostadinho com aguardente

Depois de ajeitá-lo no prato
servir no sarau cultural
da bovinocultura acadêmica

A carne perece fraca
mas o peixe continua fresco


SOBRE A COMIDA

Fazer frango com pequi
arroz e jiló

é muito simples
coisinha tenra

é necessário além do zelo
uma pitada de amor e ternura

diz a sabedoria popular
tempero de comida
é a fome


PRESERVAÇÃO DOS QUELÔNIOS

Flor do açaí
quando sol surgir na janela
destampe a panela
prepare tracajá
com tucupi


O PEIXE DOURADO

Mar abissal subaquático
o peixe dourado de Paul Klee
ilumina a cor da poesia submersa
âmago amarelo brânquias
nadadeiras
cauda escarlate
olho vermelho no azul

Luminoso peixe
feixes por entre plânctons
algas selenitas cartilaginosas
nenúfares da penumbra sensitiva
peixinhos encarnados fogem
do mistério que espreita
mundo submarino natatório

Domínio da flor do abismo
quebranto cor-de-sangue
perscrutando grande olho
aragem atlântica da fertilidade
espanto azul no escuro do mar
profundo púrpuro da cor
sob peixe laser que brilha

Sombra obscura azulina-violácea
aquarela aquática watercolor
matizando origem da vida
respira signos e cores análogas

O peixe dourado irradia mistério
Klee reinventa marinho estrelas do mar
sargaços oceânicos do ser
como criaturas da noite das águas
onde dorme um azul acesso e inquieto


O DIA ENQUANTO LÍLIA

Depois da chuva diluviana
no umbigo da uva de outubro
descubro uma cacimba
neste pé d’água
pai d’égua
e um Passarin serelepe
chega sussurrando no ouvido:

- Seje feliz, catita. Coloca teu vestido de chita
e o perfume de alecrim no cangote.
Molha logo todo esse corpo birrento.
Ande. Corra. Traga o pote e o miolo.
Vem fazê cafuné n’óios da noite.
A poesia só surge mermo
quando bate o pé-de-pilão
do dia nascendo Diniz


SOL BARDO

Depois do abacateiro
beliscar teu céu
conjugação dos elementos
siderais do firmamento
a estrela do norte riscou
o silêncio do verso do avesso

Rumor do rio da infância
preamar no olhar caboclo
louca expiação da indolência
engendrando flor de tucumã

Teu cheiro de pupunha no cangote
engasga a boca de saudade
no decote aberto da manhã

Tosca vaidade de vampiro
tatua signo secreto
desmontado no vitral das horas
ao resfolegar de um fagote
sob sol bardo
empapuçado e
enfartante


QUATORZE DE JUNHO

Fogos de artifícios
iluminam a noite
nas mídias dos edifícios

Acende a vela Ivan
na nave dos quarentas
quem ostenta barba por fazer
demora desmemoriar minas

Traça o chocolate inteiro
enquanto a cerveja chora

Se nunca viste um duende
pede alpiste ao Silibrino
ele te ensina o hino
da insensatez
na tez

Na idade dos lobos vorazes
há necessidade de jugulares tenras

Acende a vela e
não sopra
o vento está a favor


DEPOIS DE LER CARLOS NEJAR


Hoje mudei
sou outro mundo
outra aventura
outra ternura
outra vontade
incongruente criatura
vivo mudo outra metade


Então me apresento
redimível
cordato
tênue rosto risível

Áspero ofício de escrever
de ver o outro
o eu no espelho do silêncio
do Narciso feio de outrora

Mudei a latitude
agora observo o mar de Macapá

Mudei de não mudar
no futurível de mim
a mesma casa
a mesma coisa
a mesma mulher

Mutante indeciso
no arrebol da aurora
de mim mesmo
procuro o mar do embora

Outra mudança agora
O rio já não é o mesmo
outro estuário
outra lua
outra porta
barba por fazer
o que importa?


Mudo não digo nada
na madrugada de Macapá
observo o mar que escapa
lavando minhas origens nas águas

Danço o Marabaixo do acaso
mesmo no mato sem cachorro
morro de saudade de Brasília
ao inventar uma ilha de nuvens
neste céu do aqui e agora
outro mundo outra bússola
por entre vinhos e virtudes

O mar concorda com tudo
o vento da mudança também


POETA DO RISO E DA DOR

Cruel o papel de seguir
oráculo negro de Ismael

óculos escuro do sol fingidor
traz o poeta do riso e da dor

samba rock blues bolero
do bardo bêbado de amor

penetram corpo azul da solidão
como fosse pano de Messalina

lua nua do canto profano
espanta os cães da madrugada

a escada do céu está quebrada
certamente o Sérgio
sabe disso como ninguém

o trem que vai ao paraíso
já passou meu amor
alguém perdeu a memória

a história de sambar sozinho
não redime o destino cruel

colocar o bloco na rua
no céu da avenida redemoinho

refaz a marcha e cor do carnaval
do poeta do riso e da dor

menos mal meu amor
coloque os óculos no sol fingidor
vamos embora espantar essa tristeza
nessa mesa das horas agora


ADEUS MESTRE ZEZITO

Mestre Zezito
inventava bonecos
mamulengos malabares

circo popular calango
candanga ludicidade do espanto

ontem foi embora sem pedir licença
à cidade dos cirandeiros dos sonhos


COMPULSÃO

A rádio patroa
não se controla diante
das inclemências
das liquidações de verão


FELAÇÃO DE VIOLINISTA

O calvo toca De Falla
com efeitos de sodomia
para traduzir sua fala mansa
à balzaqueana sestrosa do Guará
sendo instrumento varonil
como garboso trombone de vara
do seu falo alcoviteiro dolorido


CARTOGRAFIA

Macapá no mapa
antropológico
sentimental
equaciona desterro
latitude zero da costela

Na ilha da saudade
tralhotos perscrutam estrelas
noite distante
barco a vela
maré vazante

O mar barrento espuma
mitologias da infância
manhã com catapora
Mapinguari foi logo ali
espantar criança que chora

O bairro nunca teve trem
ruas de chuvas
alagando praça Nossa Senhora da Conceição
beatas com sombrinhas
coroinhas no jejum da procissão

Beirol
Elesbão
Igarapé das Mulheres
Buritizal
Laguinho
Jacaré-a-canga
Pacoval
Lagoa dos Índios
onde fica a poesia da memória do menino
e a árvore da sua história ?

Confissões do pecado no Bar Caboclo
incursões pelo antigo lupanar Merengue
o primeiro cancro mole de boto
nado ao lado do trapiche onde mãe d’água
acalentava mágoa azeviche

Marco no mapa
melodramático Macapá
Latitude Zero do Equador
a saudade escapa absconsa
preamar do barco bacante

A lembrança sumana degredada
constrói arco de uma ponte pai d’égua
afluente de minha visagem olvidada
cartografia de mim mesmo macapaense


NEGRA FLOR (LAGUINHO)

Em mim um sujeito retinto
bebeu ébano da paixão
Ddsejo de se transformar
anum banto distinto

Êta, negra azeviche
teus olhos hipnotizam veleiros
pirilampos nos lusco-fusco de fevereiro
sob luar mambo-jambo no trapiche

A noite riso de saci
acende fogo de curupira
no escuro do muro
breu
breu
o tesão suspira calamares
bebendo licor de açaí
que destila o Laguinho palmares

Promete uma coisa, flor de miriti?
Deixa carapinha assim insinuante
no estreito leito do igarapé em Macapá
canta órfico marabaixo ofegante

Saudade não bebe água benta de zumbi
nem tampouco transporta chamego
portos mundanos que passo sem ti

Somente negra flor na lapela da estrada
O resto escafedeu-se no breu das ruas
Onde a lua espia silêncio da madrugada

Cala boca!
Já morreu...









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Um comentário:

legalsteroids disse...

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