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Noite Fraca
O cara tá podre de bêbado, parecendo um peru que quer vomitar. Chego por trás de bate-pronto e dou uma gravata no otário:
- Passa toda grana, zé cana!
- Não tenho. É o fim do mês.
Logo fico um bicho-doido e dou um tapa-telefonema no ouvido do infeliz, para ele se tocar que não brinco em serviço. Fico embucetado.
- Tô bebendo fiado desde ontem. É o fim do mês.
Enfio o dedo raivoso no olho do só cana, com a unha grande e suja de uma semana. A Dora, minha ex-amante, era a manicure e pedicure que de vez em quando dava uns tratos em minha pessoa. A safada me deixou por causa de um carinha do Serpro.
- Tem dó, meu distinto, sou casado e tenho três filhos para criar...
Fico puto de vez. Tiro o canivete com cabo de jequitibá que ganhei do meu avô quando ainda era pentelho. Frescura a minha numa hora dessa ficar pensando na minha família nordestina que não deu certo. Meu avô preto disse uma vez que tomou pinga com um sujeito chamado João do Vale, lá nas quebradas do Maranhão. Ninguém nunca ouviu falar de tal porqueira.
- Coloca a língua de fora, pau de cana!
- Por favor, meu senhor, eu sempre fui um trabalhador honesto...
Já emputecido e transtornado pela situação, puxo a porra da língua do cara fedendo a cachaça fajuta e dou um corte cego de canivete na horizontal. O babaca tenta gritar. Em vão, como um boi no matadouro morre. Os olhos esbugalhados de dar dó. Coloco o pé direito com força no peito do cu de bêbado não tem dono e dou um baculejo geral no pau-de-rato.
Confesso, hoje a noite foi fraca, mas o cara com cara de bundão olhava as estrelas em silêncio. Tava fazendo um calor arretado. Chuva que era bom só em outubro. Fiquei com uma puta pena do infeliz: apenas alguns vales-transporte meio desbotados, tíquetes-refeição de dez reais. Na carteira, a foto dele junto de uma mulher pálida e uma criança raquítica. O infeliz parecia desses românticos que pensam que quando a pessoa bebe encontra a felicidade.
Tenho dito para os meus chegados, ainda não dei certo como um verdadeiro delinqüente que tramou a rebelião do CAJE, mas se São Jorge for realmente o meu santo protetor, vai honrar essa medalinha que trago nem sei por que no peito. Um dia desse ainda faço um assalto que passe na televisão, no Jornal Nacional. E aí vou pagar cerveja a torto e a direito para os meus considerados que moram na Samambaia, que conhecem de cabo a rabo o meu funk. Tá ligado, ô meu?
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