domingo, 24 de fevereiro de 2008


Edouard Manet. Portrait of Stéphane Mallarmé. 1876. Oil on canvas. Musée d'Orsay, Paris, France
Foto de Matisse: donaldedward.blogspot.com
MATISSE E MALLARMÉ

Matisse comentava assim a sua ilustração das poesias de Mallarmé : “É agradável ver um bom poeta transportar a imaginação de um artista de outro gênero e permiti-lhe a criar o seu próprio equivalente da poesia. O artista plástico, para tirar o melhor partido dos seus dons, deve procurar não aderir de uma maneira demasiado servil ao texto. Pelo contrário, deve trabalhar livremente, enriquecendo-se a sua própria sensibilidade ao contato com o poeta que se prepara para ilustrar. Ao chegar ao fim desta ilustração das poesias de Mallarmé gostaria de declarar simplesmente: Eis o trabalho que fiz depois de ter lido Mallarmé com prazer.” Henri Matisse. Escritos e Reflexões sobre Arte.

DOM DO POEMA
Stéphane Mallarmé

Eis o filho que herdei da noite de Iduméia!
Negra de asa sangrante e pálida, ninféia,
pelo vidro a queimar de arômatas e adornos,
pelos vitrais gelados, ah! ainda mornos.
A aurora se lançou ao lume angelical.
Palmas! E quando tal troféu alça afinal
a esse pai que um sorriso hostil concede à hora,
a solitude azul e estéril estertora.
Berço e canção, com tua filha e o impoluto
de vosso pés, acolhe o tenebroso fruto:
E tua voz, viola e cravo, em tal anseio,
com o dedo fanado apertarás o seio
de onde flui em alvor sibilino uma ama
para os lábios que o ar do azul virgem inflama?

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