sexta-feira, 21 de março de 2008

Jorge de Lima e Murilo Mendes

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www.ucm.es/info/especulo/numero31/jorlima.html


Paixão e Arte
Jorge de Lima

Ter Arte é ter paixão. Não há paixão sem verso,,,
O Verso é a Arte do Verbo – o ritmo do som...
Existe em toda parte, ao léu da Vida, asperso
e a Música o modula em gradações de tom...

Blasfemador, ardente, amoroso ou perverso
quando a Paixão que o gera é Marília ou Manon...
Mas é sempre a Paixão que o faz vibrar diverso:
se o inspira o Ódio é mau, se o gera o Amor é bom...

Diz a História Sagrada e a Tradição nos fala
Dum amor inocente, (o mais alto destino):
A Paixão de Jesus, o perdão a Magdala

Homem, faze do Verso o teu culto pagão
e canta a tua Dor e talha o alexandrino
a quem te acostumou a ter Arte e Paixão.

Mulher Proletária
Jorge de Lima

Mulher proletária – única fábrica
que o operário tem, (fábrica de filhos)
tu
na tua superprodução de máquina humana
forneces anjos para o Senhor Jesus,
forneces braços para o senhor burguês.

Mulher proletária,
o operário, teu proprietário
há de ver, há de ver,
a tua produção
a tua superprodução,
ao contrário das máquinas burguesas
salvar teu proprietário

Homenagem a Jorge de Lima
Murilo Mendes

Inventor, teu próprio mito, Jorge, ordenas,
e este reino de fera e sombra.
Herdeiro de Orfeu, acrescentas a lira.

À mesa te sentaste com os cimeiros
Dante, Luís de Gongora, o Lusíada,
e Lautréamont, jovem sol negro
que inaugura nosso tempo.

O roteiro traçado, usaste os mares.
A ilha tocas, e breve a configuras:
ilha de realidade subjetiva
onde a infância e o universo do mal
abraçam-se, perdoados.
Tudo o que é do homem e terra te confina.

Inventor de novo corte e ritmo,
sopras o poema de mil braços,
fundas a realidade,
fundas a energia.
Com a palavra gustativa,
a carga espiritual
e o signo plástico
nomeias todo ente.
O frêmito e movimento do teu verso
mantido pela forte e larga envergadura.
Poder da imagem que provoca a vida
e, respirando, manifesta
o mal do nosso tempo, em sangue exposto.

Aboliste as fronteiras da aparência:
no teu Livro, fértil se conjugam
sono e vigília,
vida e morte,
sonho e ação.

Nutres a natureza que te nutre,
mesmo as bacantes que te exaurem o peito.
Aplaca tua lira pedra e angústia:
cantando clarificas
a substância de argila e estilhaços divinos
que mal somos.

Grafito Para Vladimir Maiacovski
Murilo Mendes

Um cosmonauta cantando dá volta ao cosmo
enquanto eu desfaço a barba.

Constrói-se a décima musa
economia dirigida Unatotal
que deverá mover o homem novo

Planifica-se nos laboratórios
a futura direção dos ventos
extraí-se energia das algas
opera-se o sol

Eletrifica-se a eternidade
reversível

Entretanto

O PLANETA NÃO ESTÁ MADURO
PARA A ALEGRIA.

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