Meia noite. Fim
de um ano, início
de outro. Olho o céu:
nenhum indício.
Olho o céu:
o abismo vence o
olhar. O mesmo
espantoso
silêncio
Da via láctea feito
um ectoplasma
sobre a minha cabeça:
nada ali indica
que um ano novo começa:
nada ali indica
que um ano novo começa:
E não começa
nem no céu nem no chão
do planeta:
começa no coração.
Começa como a esperança
de vida melhor
que entre os astros
não se escuta
nem se vê
nem pode haver;
que isso é coisa de Homem
esse bicho
estrelar
que soma
(e luta)
Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano
vive uma louca chamada Esperança
e ela pensa que quando todas as sirenas
todas as buzinas
todos os reco-recos tocarem
- Ó delicioso vôo!
Ela será encontrada miraculosamente incólume na calçada,
outra vez criança...
e em torno dela indagará o povo:
- Como é teu nome, meninazinha de olhos verdes?
E ela lhe dirá
(É preciso dizer-lhes tudo de novo!)
Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:
- O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA...
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