terça-feira, 30 de dezembro de 2008
O Champanhe - Adrino Aragão
Anton Tchekhov
sexta-feira, 19 de dezembro de 2008
Poesia sutil de Priscila Figueiredo
http://blog.comunidades.net/galeria/srmoranguita8477...
Priscila Figueiredo fez Letras na USP e mestrado na área de literatura brasileira, sobre o livro de Mário de Andrade Amar, verbo intransitivo. A dissertação veio a ser publicada, em 2001, pela editora Nankin. Escreveu vários artigos para revistas e jornais, como a Folha de S. Paulo, onde foi, por quatro anos, consultora de português. Foi co-editora da revista Rodapé, voltada para a crítica de literatura brasileira contemporânea. Participou do Cálamo, grupo surgido em fins de 1990 a partir das oficinas literárias da Casa Mário de Andrade, integrado por pessoas de diferentes formações interessadas em produzir e discutir literatura. Desde 1998 trabalha na TV Cultura como assessora em língua e literatura, produzindo análises de poemas e canções para a seção "ponto.compoesia", do site de educação, e colaborando na pauta e redação do programa "Nossa Língua Portuguesa". Atualmente faz doutorado na USP sobre Macunaíma.
“Sutil, inteligente, reflexiva e de uma delicadeza pontiaguda” é a definição da poesia de Priscila Figueiredo para Reynaldo Damazio, da Unimarco Editora, para quem a autora apresenta uma visão interessante da literatura. Mas é a ironia e o tom satírico que marcam a atual fase de Priscila, que escreve poemas há 20 anos. “Já passei pela fase de poemas místicos, líricos, até atingir um ponto mais consistente, atualmente, com uma fase satírica”, disse ela.
é incrível
minha mãe é cobradora
de ônibus e anã
ela fica sentada ninguém nota
com catraca eletrônica
a gente está perdida
no olho da rua
a gente vai comer o diabo
todo mundo vai saber
que minha mãe é anã
e pobre
a mão invisível só atrapalha
o único emprego que esconde minha mãe
é o de cobrador ela fica sentada
ninguém vê ou tem tontura
porque suas mãos grandes e rápidas
pegam o dinheiro e o contam e o recusam
quando ela não pode dar o troco
são mãos que não trazem perigo
esse trabalho era mesmo muito bom
porque a gente só podia ver as mãos dela
agora essas mãos andam em companhia do corpo
e vão lhe dizer: “Olhem com quem andam!”
O corpo da minha mãe não é estável
Tatu-bolinha
Você se eriça
Luta de Classe I
Jandira insiste com a creolina
que a tudo corrói, limpa e higieniza
Jandira, até minhas tripas?
Depois pego Jandira na despesa
devorando mexericas quase podres
arrastando no chão sujo a bunda e o avental
praticamente novo
Jandira
na geladeira
o melão partido
a alface crestada
o molho branco destampado?
Jandira diabólica
trepa na minha vista
arreganha os dentinhos
criada surda curda fula
Jandira enfia no meu cu
o avental a creolina as cascas
eu engulo mais essa
fedentina de mexerica porcaria
dessa empregada
mole e revoltadinha
que empesteia de mexerica
toda a minha casa
toda a minha cozinha
Amor Imposível
Andréia é louca por melancia, manga e goiaba
mas Andréia tem grande preguiça
de comer melancia com tantas sementes!
Para Andréia, não há graça
em comer manga com faca
(e comer manga sem faca
é mesmo uma desgraça)
Andréia também não come goiaba
porque diz ela, são tantos os bichos...
Apesar disso
Andréia é louca por melancia, manga e goiaba
Canto da Sereia
Meu querido
este umbigo que vês
é o seu tanto soturno e pequenino
mas é odre de almíscar
celeiro de tigres
terra da Úmbria
é ainda
cantil de poeira
boca sem visgo
minha cicatriz mais triste
possa tua língua
escovar bem fundo
esse poço sem limo
este ponto de fuga
esta galinha morta
encruzilhada suja
em que se enruga
toda a Terra, toda a carne:
pelo ralo
segunda-feira, 15 de dezembro de 2008
Poemas de Robert Frost
Duas estradas num bosque amarelo divergem:
triste por não poder seguir as duas
sendo um só viajante, muito tempo parei
olhando uma delas, até onde podia alcançar,
pois atrás das moitas ela dobrava.
Então tomei a outra que me pareceu de igual beleza,
uma vantagem talvez oferecendo
por ser cheia de grama, querendo ser pisada:
embora neste ponto o estado fôsse o mesmo
e uma, como a outra, tivesse sido usada.
E naquela manhã todas as duas tinham
folhas ainda não escurecidas pelos passos.
Ora! Guardei a primeira para um outro dia!
Mas sabendo como uma estrada leva a outra,
duvidei poder um dia voltar!
Contarei esta estória suspirando,
daqui a séculos e séculos em algum outro lugar:
duas estradas, num bosque, divergiam
e eu tomei a que era menos frequentada
e foi isso a razão de toda a diferença!
Nossa Posse do Planeta
Pedimos chuva. Não houve relâmpago nem trovão.
Não houve um vendaval. Não houve incompreensão
nem nos deram mais do que pediramos
e só por havermos a chuva pedido
não nos castigaram com enchentes e calamidades
ganhamos, isso sim, um bom aguaceiro.
Que pudemos então p'ras sementes usar.
E depois veio outro, e depois outro ainda,
para o solo esponjoso bem fértil tornar.
Podemos duvidar da justa proporção entre o bem e o mau.
Na natureza há muito contra nós, mas há o que esquecemos:
se tomarmos a natureza como é desde o início dos tempos
incluindo o ser humano, na paz e na guerra,
veremos haver algo bom a favor dos homens,
talvez uma fração de um por cento pelo menos;
ou o número dos vivos não viria crescendo sempre
nem nossa posse do planeta teria aumentado tanto.
(pt.wikipedia.org/wiki/Robert_Frost)
sábado, 13 de dezembro de 2008
Nefelibata / A Sopa e as Nuvens
http://tapostado.wordpress.com/
quarta-feira, 10 de dezembro de 2008
Teatro de Animação - Ana Maria Amaral
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Bachelard e Monet: do Olhar à reflexão - José Américo Pessanha
http://images.google.com.br/image
Investigador das duas vertentes da imaginação – a imaginação científica e a imaginação artística -, Gaston Bachelard (1884-1962) reavalia o papel do olhar na construção do imaginário. Denuncia o ocularismo da cultura ocidental e mostra que o vocabulário básico da ciência e da filosofia está marcado pela hegemonia da visão. O “novo espírito científico” exige, porém, o reexame do pressuposto ocularista, que tendera a fazer da realidade um espetáculo a ser contemplado: o fenômeno não é mais propriamente “descoberto”, antes “inventado”, subentendendo uma fenomenotécnica, que revaloriza a noção de manualidade.
Bachelard mostra a existência de uma imaginação material ao lado da imaginação formal, baseada na visão. A imaginação material resulta de nossa inserção enquanto corpo no corpo do mundo e alimenta um imaginário que trasparece sobretudo nos devaneios, na arte, na filosofia. Esse imaginário resgata o valor da “mão que sonha” e produz realidades artísticas, quer movida pela vontade de criar que a leva a enfrentar a resistência do mundo (na escultura), quer gerando novas realidades por meios “alqímicos” (na gravura, na pintura).
Claude Monet (1840-1926) é interpretado por Bachelard. Monet – “é apenas um olho, mas que olho!”, exclama Cézanne – é talvez o maior dos impressionistas. Pinta paisagens, tentando captar o percurso do tempo pela captação da luz de cada instante. E pinta reflexos de paisagens em águas tranqüilas ou encrespadas. Parece passar do instante do olhar da reflexão, ali onde arte e filosofia se aproximam na fronteira entre o fugaz e o permanente. ( Texto extraído de O Olhar. Funarte/Núcleo de Estudos e Pesquisas, 1988 )