Hilda Hilst
Odes mínimas, de Hilda Hilst foi publicado pela primeira vez em 1980 por Massao Ohno/ Kempf Editores, além de ter constado da reunião Poesia (1959/ 1979), lançada também em 1980, pelo Instituto Nacional do Livro/ Edições Quíron.
Da morte. Odes mínimas vem acompanhado de seis aquarelas da própria Hilda Hilst. São aquarelas de cores vivas e alegres, enquanto os versos conversam com a negra morte. Tal paradoxo, obviamente proposital, vem afirmar que a poesia traz a morte para a ensolarada vida, procura envolvê-la, e, por esse caminho, o monólogo com ela se torna possível. Assim como, de tanto falar sobre algo, uma intimidade possa se estabelecer, o monólogo criado para a morte parece querer que ela, ao se apresentar finalmente por inteiro, já não seja capaz de causar espanto. Os versos da poeta traçam uma via que conduz ao encontro virtual "entre duas mulheres fortes/ na sua dura hora". Ou, já aprofundando o encontro: "E a ti, te conhecendo/ Que eu me faça carne/ E posse/ Como fazem os homens". Um conhecimento vai sendo travado, um envolvimento vai criando a trilha da sedução, enfim, as odes vão construindo um pacto com a morte.( Gerana Damulakis. http://leitoracritica.blogspot.com/2008/08/hilda-hilst.html )
(...)
É sempre a morte o sopro de um poema
entre uma pausa e outra ela surge
Ilharga de sol. Ah, diante do efêmero
hei de cantar mais alto, sem o freio
de cantares longínquo, assustado.
(...)
Um poeta e sua morte
estão vivos e unidos
no mundo dos homens
Ode XXVIII (Da morte)
Ah, negra cavalinha
Flanco de acácias
Dobra-te para a montaria
Porque me sei pesada
De perguntas, negras favas
Entupindo-me a boca
E no bojo um todo averso
Uns adversos de nojo:
Que rumos? Que calmarias?
Me levas para qual desgosto?
Há luz? Há um deus que me espia?
Vou vê-lo agora montada alma
Sobre as tuas patas? Tem rosto?
Dobra-te mansa
Porque me sei pesada. De vida.
De fundura de poço. E porque
Um poeta não sabe montar a morte
Ainda que seja a minha:
Flanco de acácias.
Negra cavalinha.
Flanco de acácias
Dobra-te para a montaria
Porque me sei pesada
De perguntas, negras favas
Entupindo-me a boca
E no bojo um todo averso
Uns adversos de nojo:
Que rumos? Que calmarias?
Me levas para qual desgosto?
Há luz? Há um deus que me espia?
Vou vê-lo agora montada alma
Sobre as tuas patas? Tem rosto?
Dobra-te mansa
Porque me sei pesada. De vida.
De fundura de poço. E porque
Um poeta não sabe montar a morte
Ainda que seja a minha:
Flanco de acácias.
Negra cavalinha.
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