ESCOVA PROGRESSIVA?
Cristiane Sobral (Nasceu no Rio de Janeiro, em 1974, e reside em Brasília desde 1990. Como escritora, possui poemas e contos publicada na Antologia Cadernos Negros, edições 23, 24, e 25. Graduada como atriz habilitada em Interpretação Teatral pela Universidade de Brasília, sendo a primeira negra a ganhar o título acadêmico. http://crisobral.sites.uol.com.br/)
Se a raiz é agressiva
Escova progressiva
Se a raiz é agressiva
Escova progressiva
Aí!
Eu tenho medo do formol!
Eu tenho medo do formol
Abaixo a chapinha no cabelo da neguinha
Abaixo a chapinha no cabelo da neguinha
Abaixo, abaixo, abaixo!
PIXAIM ELÉTRICO
Cristiane Sobral
Naquele dia
Meu pixaim elétrico gritava alto
Provocava sem alisar ninguém
Meu cabelo estava cheio de si
Naquele dia
Preparei a carapinha para enfrentar
a monotonia da paisagem da estrada
Soltei os grampos e segui, de cara pro vento, bem desaforada...
Sem esconder volumes nem negar raízes.
Pura filosofia
Meu cabelo escuro, crespo, alto e grave...
Quase um caso de polícia em meio à pasmaceira da cidade
Incomodou identidades e pariu novas cabeças
Abaixo a demagogia
Soltei as amarras e recusei qualquer relaxante
Assumi as minhas raízes ainda que brincasse com alguns matizes
Confrontando o meu pixaim elétrico com as cores pálidas do dia.
BOTE
Cuti (Luiz Silva Cuti é escritor, Mestre em Teoria da Literatura e doutorando no Instituto de Estudos da Linguagem - UNICAMP. Publicou, dentre outros, Flash Crioulo sobre o Sangue e o Sonho (poemas - 1987) Quizila (contos - 1987), Dois Nós na Noite (teatro -1991) e Negros em Contos (1996).
aos que ainda caçam
escravos
meu cuspe de desacato
e o fogo de fato
a derreter abismos
chego ao coração do
suicídio
e não me mato
liberto noite s repletas de gatos
e salto
com sete vidas
afiadas unhas
na jugular dos palhaços
NAÇÃO INUSITADA
Cuti
em festa rodopiem o desejos
este beijo é mais
que o ensejo
do sexo
mundos em melanina se fundem no afeto
reencontro de rios perdidos
selvas
sagas
mares temperados com africanas algas
eletrizantes peixes pretos
e seus volts de memória
atávica
neste encontro de fontes
ontens em lábios-romã celebram
orgasmos intensos de amanhãs passíveis
e os deuses deixam-se os poros abertos
neste ir e vir
de ancestrais suores
OXUM
Jorge Amâncio (Carioca, nasceu em 1953 e reside em Brasília desde 1976. Licenciado em Física pela Universidade de Brasília, professor da Fundação Educacional do Distrito Federal, participante e ativista de movimentos sociais de luta contra o preconceito racial. Começou a publicar seus textos poéticos no jornal Raça do M.N.U. (Movimento Negro Unificado), no início dos anos 80. É responsável, com Marcos Freitas, pela organização do evento Poemação no auditório da Biblioteca Nacional de Brasília, desde meados de 2009).
Oh! Sol da beleza!
Rainha dos raios!
De Ogum, Oruminlá e Oxossi
Segunda de Xangô
Fertilize a terra
Sêmen que tens
no ventre de luz
abrangente de paz
Oh! Sol, rainha!
Oxum beleza
NEGRO SAFADO
Jorge Amâncio
Eta negro safado
Um novo tarado
Pancada ao troco
Êta negro safado!
- Olha a rua
Negro de rua
- Fecha o trânsito
- Tranca rua
Êta negro safado
Que fica calado
Braços cruzados
se lado a tudo
sem conteúdo
Êta negro safado!
- Entra pelos fundos
Elevador de serviço
- Um sorriso
- sim doutor
Êta negro safado!
- É um assalto!
De dentes cerrados
- É uma arma!
De pernas lonhas
- É a polícia!
Um comentário:
um axézé
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