sexta-feira, 3 de abril de 2009
Guillaume Apollinaire
Amadeo de Souza, Saunt du Lapin, 1911
http://casoaul.wordpress.com/
O Cavalo
Os meus sonhos formais serão teu cavaleiro,
meu destino luzindo teu belo cocheiro
por rédeas terás tensos levando à agonia,
meus versos, o modelo de toda poesia.
A Serpente
Sei que te obstinam as beldades
e que nelas com acuidade
exerceu tua crueldade!
Cleópatra, Eurídice, Eva,
sei de outras três em tua leva.
O Gato
Desejo manter em meu lar:
uma companheira a pensar,
andando entre livros um gato,
bons amigos sempre a passar
sem os quais o viver é ingrato.
A Lebre
Não sejas lascivo e assustado
como a lebre e o apaixonado,
faça com que o célebro seja
a fêmea que vários enseja.
O Rato
Belos dias, rato das horas,
roído assim faço-me idas.
Deus! foram-me vinte e oito auroras,
penso eu muito mal vividas.
A Largata
Só o trabalho é que enriquece.
Pobre poeta, à picareta!
A largata sem cessar tece
pra transformar-se em borboleta.
As Sereias
Saberei eu porque cantam entediadas
longas ladainhas durante as madrugadas?
Mas, sou como tu, onde há vozes maquinando
meus cantantes barcos são anos navegando.
Orfeu
A fatal fêmea do alcião,
o amor, as aladas Sereias,
sabem uma mortal canção
inumanas e cheias de teias.
Que não te encantem tais ruídos,
só anjos devem ser ouvidos.
( Poemas do livro O Bestiário ou Cortejo de Orfeu, de Guillaume Apollinaire. Tradução de Álvaro Faleiros. Editora Iluminuras. SP, 1997 )
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