sábado, 22 de novembro de 2008

White Album - The Beatles




http://www.beatleshp.com
Eleito um dos melhores discos já gravados na história, o White Album, dos Beatles, completa agora em novembro quatro décadas de existência. Lançado em 22 de novembro de 1968, é o nono álbum oficial dos FabFour e o nono mais vendido de todos os tempos nos Estados Unidos.


The Beatles, ou White Album, é o famoso Álbum Branco, lançado em Novembro de 1968, que entrou para o Guiness Book como o disco que mais vendeu nos EUA em uma semana (pouco mais de 2.000.000 de cópias), façanha tamanha só para os Beatles. Pela 1ª vez crítica e público aceitaram que as músicas eram individuais, sendo que isso já era notado desde os primeiros trabalhos da banda. Um fato curioso é que as baterias de 3 músicas deste disco são tocadas por Paul. São elas Back In The Urss, Dear Prudence e Why Don't We Do It In The Road, em que Paul tocou todos os instrumentos - isso aconteceu porque o Ringo tinha resolvido sair da banda por achar que não estava tocando bem, mas depois de insistentes telefonemas dos outros 3 ele resolveu voltar ao conjunto. Paul McCartney estava no auge da sua fase folk rock nos Beatles, ele fez músicas como Rocky Raccoon, Blackbird, Mother Nature's Son, e I Will, mas McCartney é McCartney, ele também surpreende com as pauleiras como Back In The USSR, hit digno da coletânea azul, Birthday, e a canção que muitos consideram como o primeiro Heavy Metal da história: Helter Skelter, uma porrada na orelha com aquele vocal rouco que só o Paul consegue fazer. Mas não poderiam faltar as baladas: Martha My Dear, com uma bela execução de piano a cargo de Paul, Ob-La-Di,Ob-La-Da, muito bacana e divertida, além de Honey Pie (lembrando aqueles jazz dos anos 40).
George Harrison pela 1ª vez conseguiu emplacar um hit nas paradas, com a belíssima While My Guitar Gently Weeps - uma das melhores músicas de George e dos Beatles, que conta conta com um belíssimo solo de guitarra a cargo do guitarrista Eric Clapton (ele fez a guitarra chorar). Em Piggies mais uma vez George atacou de político e também conta com um belíssimo solo de cravo e o clássico final com George dizendo ONE MORE TIME. Savoy Truffle é uma música mais soul rock com direito a solo de sax e um belo solo de guitarra no estilo George; uma curiosidade é que essa música foi uma homenagem que George fez a Eric Clapton, pois Clapton, segundo George, adorava doces principalmente trufas.
Lennon também foi brilhante, deixando clássicos como Sexy Sadie, feita para o pilantra do Maharishi, o guru indiano que roubou os Beatles até eles perceberem; Dear Prudence, Glass Onion, I'm So Tired... John mandou muito bem neste disco, mostrando que pode ser tão versátil como McCartney, fazendo baladas como Julia - uma melodia triste, mas muito bonita - até louqueiras como Everybody's Got Something To Hide Except For Me And My Monkey, e seu poderosso Yer Blues, Happiness Is A Warm Gun, com um ritmo complexo no meio da canção e os vocais lembrando Paperback Writer. Revolution 9 não passa de uma colagem de efeitos com vários loops de efeitos com o desfecho de "We Want Mary Juana, We Want Mary Jane"; e por falar em Mary Jane, What's The New Mary Jane ficou de fora do álbum branco por ser muito anti-comercial, assim como a Psicopauleira "Not Guilty" de George, que só foi lançada 10 anos mais tarde. Realmente George era um cara que sentia a música quando tocava riffs poderosos... gênio. Ringo conseguiu ter um ótimo desempenho como instrumentista - em Helter Skelter ele esmurrou os pratos como eles mereciam ser esmurrados, suas levadas estavam muito mais trabalhadas. Ele havia realmente evoluído como instrumentista. Como compositor, Ringo contribuiu com Don't Pass Me By. Pois bem está aí e como McCartney costuma dizer a quem fala mal do álbum branco: "It sold a lot, it's the bloody Beatles White Album... Shut up".
O 1º disco, que começa com o vivo e vibrante "Back in the USSR" de Paul, é talvez o melhor pelo brilhantismo de composições como "While My Guitar Gently Weeps" de George, "Blackbird" de Paul e duas de John, a linda balada "Julia" e o rico "Happiness is a Warm Gun". Não se esgota aqui a qualidade. O invocativo "Dear Prudence" é fantástico na aproximação gentil que faz à vida, "Glass Onion" desafia ironicamente o mito "beatlesco" e Paul tem em "Ob-la-Di Ob-la-Da" uma das suas famosas canções e em "Martha My Dear", "Rocky Racoon" e "Why Don't We Do It In The Road" das mais interessantes, a primeira por força da riqueza musical e a duas últimas pela inovação temática, crueza e originalidade.O lado 2, apesar de menos interessante musicalmente, é também pleno de inovação. O proto-metaleiro "Helter Skelter" redefiniu a ideia de pesado, "Everybody's Got Something to Hide Except For Me and My Monkey" segue a mesma onda de "Why Don't We...." na simplicidade da letra mas é musicalmente apelativo pela inteligência rítmica e vivacidade. Encontramos até John fazendo um blues repressivo e zangado com "Yer Blues" e orquestrando uma das mais interessantes composições musicais do albúm, com "Sexy Sadie", uma suave nota de culpa, melódica e polémica, devido à associação com o guru Maharishi.Outras faixas de referência são "Revolution 1", uma mensagem política contra a revolução violenta que muitos achavam necessária naqueles tempos conturbados (procure-se no You Tube uma versão mais acelerada), "Long Long Long", que é uma das mais sub-estimadas canções do grupo e "Savoy Truffle", que prima sobretudo pela piada.

( João Passos, em http://ocean-drive.blogspot.com/ )

sábado, 8 de novembro de 2008

Reflexões Sobre Duchamps - Jasper John



Marcel Duchamp(O Grande Vidro - a noiva desnudada pelos celibatários)
http://myamagawa.blog.uol.com.br/arch2007-02-29_2007...

Pouco depois de sua morte, houve aquelas entrevistas publicadas em em duas revistas de arte. Quase no final de uma delas, Duchamp disse: "Não sou nada além de um artista. Estou confiante e encantado em sê-lo." A outra entrevista terminava assim: "Oh, sim. Ajo como um artista embora eu não seja um." Pode haver alguma malícia nessas descrições contraditórias ou, talvez, certa falta de vontade de considerar qualquer definição como sendo conclusiva.

Uma fascinação com as tentativas de todos os estados-de-coisas era refletida pela manipulação indiferente que Marcel fazia de valores e definições ligados a obras de arte. Ele foi o primeiro a ver ou dizer que o artista não tem total controle das virtudes estéticas de sua obra, que outros contribuem para a determinação da qualidade. Ele perecia imaginar a obra de arte como envolvida em uma espécie de reação em cadeia até que fosse, de algum modo, capturada ou parada, fixada pelo "verdadeiro final" da posteridade. Essa preocupação com coisas se movendo e paradas - exemplificada em sua obras Nu descendo a escada, A passagem, Três medidas padrão, os "pistons delineados" e a poeira fixada no Grande vidro, os Rotorrelevos etc - focaliza as alterações de peso das coisas, a instabilidade das nossas definições e medições.

O readymade foi movido mentalmente e, depois, fisicamente, para um lugar ocupado previamente pela obra de arte. As consequências desse simples rearranjo provavelmente ainda não se esgotaram. Mas por enquanto, o readymade parece permanecer naquele lugar, um exemplo do que a arte é, uma nova unidade de pensamento.

Trazer a dúvida para o ar que envolve a arte pode ter sido uma grande obra de Duchamp. Ele não parece ter exagerado nenhuma das condições para a arte, atacando as idéias de objeto, artista e espectador com igual intesindade e observando a sua interação com desprendimento e igual intensidade, nunca com qualquer demonstração física especial de otimismo, e com freqüência a partir de pontos de vistas conflitantes.

Mas Marcel nunca nos deixava seguro a respeito de qualquer afirmação que se fizesse sobre ele. Nunca reivindicou aquilo que deveríamos reivindicar para ele. (Reflexões Sobre Duchamp, de Jasper John, texto publicado em Escritos de Artistas Anos 60/70. Organização de Glória Ferreira e Cecília Cotrim. Jorge Zahar Editor. Rio de Janeiro, 2006)

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Cristina Bastos


http://www.overmundo.com.br/perfis/cristina-bastos

CRISTINA BASTOS - Nasceu em Uberlândia (MG), em 1960, e vive atualmente em Brasília. Formada em Educação Artística. Sua atividade não se limita à poesia — é artista plástica e fotógrafa e se orgulha de ter pertencido ao grupo “Ladrões de Alma”, que promoveu várias exposições em Brasília. Escreve desde 1972 e tem poemas publicados nas Antologias Poética Hélio Pinto Ferreira, volumes X, XI e XII, e em Intimidades Transvistas (Editora Escrituras), 1997, coletânea de poemas inspirados na obra do artista plástico Valdir Rocha. Assim que publicou seu primeiro livro, Cristina Bastos passou a ser considerada uma das mais importantes vozes da nova poesia de Brasília. Publicações: Decerto Deserto, 1992, Editora Iluminuras; Teia, 2002, Varanda/Massao Ono Editor.

Companhia dos Ratos

Há um rato
devorando meus livros

ouço-o
não o mato.

Mora na estante
dos livros imaginários
ruídos

deixo que ele habite
por indecisão
em destruí-lo,

como eu
se alimenta de letras
e riscos

Qualquer Coisa

Vasa pela fresta
do vaso quebrado
o verbo,

não carece mais
que um insípido objeto
para ser

verso
transbordante

XXI

Artaud
volto a fazer teatro
a escavar no fundo
a gesto de cada ato

A andar nua
na sociedade de trapo.

Verso bailarino

Poemas que dançam
são etéreos

preferem
não ser impressos

valsam
sugerindo.


Decerto Deserto I

Há cactus
há dias
firo meus pés.

Borboletas
me fazem rir
são descaradamente belas

Como podem...

Como pólen
e sou quase
coisa bela.

Com meu cajado
sou grande
quase o deserto,

para o deserto
sou quase
borboleta bela.

Aceito

Se estranha a teia
assimilo o asco
do desconhecido,

aranha enorme,

uma batalha disforme
entre verbo
e a garra do instinto

Nua

A máscara está deposta
desconhece-me
eu sei sobre seu espanto

certamente
não será a última,

já tendo me despido
esqueço-a,

máscaras morrem
quando postas sobre a mesa.