O poeta americano e.e.cummings (1894-1962 ) depois de estudar latim e grego em Harvard, dedicou sua vida à poesia. Conhecido pela sutileza da forma gráfica de seus poemas, teve nos concretistas Augusto e Haroldo de Campos seus tradutores e divulgadores. Considerado um dos poetas essenciais do paideuma literário junto com Mallarmé e Pound.
“Falecido aos 67 anos de idade, e. e. cummings pertence à estirpe dos inventores da poesia moderna, ao rol daqueles poucos que realmente transformaram a linguagem poética de nosso tempo, em sintonia com o prospecto de uma civilização cujos crescentes progressos científicos vão abolindo vertiginosamente as fronteira entre a realidade e a ficção. Abominado por críticos e poetas conservadores , cummings mereceu, em contrapartida, a admiração de escritores do porte de Marianne Moore, William Carlos William, John dos Passos e Ezra Pound”.
“Falecido aos 67 anos de idade, e. e. cummings pertence à estirpe dos inventores da poesia moderna, ao rol daqueles poucos que realmente transformaram a linguagem poética de nosso tempo, em sintonia com o prospecto de uma civilização cujos crescentes progressos científicos vão abolindo vertiginosamente as fronteira entre a realidade e a ficção. Abominado por críticos e poetas conservadores , cummings mereceu, em contrapartida, a admiração de escritores do porte de Marianne Moore, William Carlos William, John dos Passos e Ezra Pound”.
(Haroldo de Campos , publicado no livro "poem(a)s" . Editora Francisco Alves - 1998)
nalgum lugar em que eu nunca estive,alegremente além
de qualquer experiência,teus olhos têm o seu silêncio:
no teu gesto mais frágil há coisas que me encerram,
ou que eu não ouso tocar porque estão demasiado perto
teu mais ligeiro olhar facilmente me descerra
embora eu tenha me fechado como dedos,nalgum lugar
me abres sempre pétala por pétala como a Primavera
abre
(tocando sutilmente,misteriosamente)a sua primeira rosa
ou se quiseres me ver fechado,eu e
minha vida nos fecharemos belamente,de repente,
assim como o coração desta flor imagina
a neve cuidadosamente descendo em toda a parte;
nada que eu possa perceber neste universo iguala
o poder de tua imensa fragilidade:cuja textura
compele-me com a cor de seus continentes,
restituindo a morte e o sempre cada vez que respira
(não sei dizer o que há em ti que fecha
e abre;só uma parte de mim compreende que a
voz dos teus olhos é mais profunda que todas as rosas)
ninguém, nem mesmo a chuva,tem mãos tão pequenas
Vida:
realejos e abril
treva, amigos
eu me lanço rindo.
Nas tintas fio-de-cabelo
da aurora amarela,
no ocaso colorido de mulheres
eu sorrisando
deslizo.
Eu na grande viagem escarlate
nado, dizendomente;
(Você sabe?) o sim, mundo
é provavelmente feito
de rosas & alô:
(de atélogos e,cinzas)
Tradução: Augusto de Campos
tuas pernas plantas de sonho
cujo fruto alimenta o esquecimento
teus lábios sátrapas em escarlate
cujo beijo é uma união de reis
teus pulsos
sagrados
são guardiões das chaves do teu sangue
teus pés nos tornozelos são flores num vaso
de prata
cujo fruto alimenta o esquecimento
teus lábios sátrapas em escarlate
cujo beijo é uma união de reis
teus pulsos
sagrados
são guardiões das chaves do teu sangue
teus pés nos tornozelos são flores num vaso
de prata
em tua beleza o dilema das flautas
teus olhos são a traição
de sinos vistos por entre o incenso
de sinos vistos por entre o incenso
(a lua escorrega de uma nuvem
um relógio toca meia-noite
um dedo puxa um gatilho
um pássaro entra num espelho)
um relógio toca meia-noite
um dedo puxa um gatilho
um pássaro entra num espelho)
Tradução: Adalberto Muller
Formosa,hei de tocar-te com meu pensamento.
Tocar-te e tocar e tocar
até que de repente me
dês um sorriso,timidamente obsceno
(formosa hei de
tocar-te com meu pensamento.)Tocar
te,e só,
suave e inteiramente tu hás de tornar-te
com leveza infinita
o poema que não hei de escrever.
Tocar-te e tocar e tocar
até que de repente me
dês um sorriso,timidamente obsceno
(formosa hei de
tocar-te com meu pensamento.)Tocar
te,e só,
suave e inteiramente tu hás de tornar-te
com leveza infinita
o poema que não hei de escrever.
Tradução: Maurício Cardoso