sexta-feira, 23 de maio de 2008

5 Poemas de PAULA TAITELBAUM




quasepoema.zip.net/images/taitelbaum.JPG
http://www.navevazia.com/trinta/2006/10/22_paula_taitel.html


PAULA TAITELBAUM, escritora, publicitária, jornalista. Nasceu na primavera de 1969 em Porto Alegre. Autora dos livros de poemas Eu Versos Eu (Fumproarte, 1998), Sem Vergonha (L&PM, 1999), Mundo da Lua (L&PM, 2002), Porno Pop Pocket (L&PM, 2004). Escreve para a Revista Estilo Zaffari e é colaboradora da Revista Claudia. Redatora Publicitária, Professora de Redação Publicitária da ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing. Trabalha também com desenvolvimento de projetos culturais.

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Ela pega a bolsa, ajeita a blusa e vai
Vai correndo pela rua feito um trem
Sem olhar para nada nem ninguém
Sem freio vai enfrentando o atrito do ar
Vai sem conseguir nem ao menos respirar
Ela só pensa em alcançar aqueles braços
Percorrer com a língua todos os seus traços
Vai correndo porque quer penetrar em outra pele
Falecer num gozo que a revele

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Ele gosta de mulheres com falo
no meio das falas
com palavras que pingam
e frases que entram rasgando
Ele gosta de mulheres que fodem
com as regras de gramática
que comem letras
quando estão gozando

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Silicone, espartilho
algemas e salto fino
tudo farsa
depois da festa
ela tira
o disfarce
desfaz a pose
e de posse
de seu pênis
de pilha
vai comer
a sua ervilha

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Na vulva vibra a larva
que logo será borboleta
sairá do casulo
vai virar uma boceta

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Desenhe círculos
sobre meu clitóris
infinitos pontos finais
um para cada um
dos meus ais

quarta-feira, 14 de maio de 2008

ANTONIN ARTAUD


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Artaud: a escrita masturbatória
Daniel Lins


Como falar sobre Antonin Artaud? O exercício parece impossível. Artaud explicado é uma abominação. Experimentar, ao invés de falar sobre, eis a que condenado. Atravessar o corpo de Artaud, atingir o corpo da terra e com ele os poros, os tóxicos, os sonhos envenenados por uma vida em guerra radical contra as representações, é mais que um desafio, é um exercício de recriação da vida pensada, imaginada, interpretada; é a invenção do corpo-pais, campo do transcendental no sentido deleuziano: “Quando se abre o mundo pululante de singularidades anônimas e nômades, impessoais, pré-individuais, Pisamos, afinal, no campo do transcendental”. Engendrar uma produção de Artaud, numa espécie de encarnação de uma escrita crua regada pelo sangue, pela saliva, pelo excremento: uma escrita fecal. Fecalidade como um corpo-sopro imbuído de merda, campo fulgurante, onde “a merda cheira a ser”, onde o excremento torna-se, na perspectiva artaudiana, a imagem da morte. Fecalidade que não atesta o amor pela escatologia mas a negação de uma ontologia centrada no identitário., no Uno, no Absoluto

Onde cheira à merda
cheira a ser
O homem podia muito bem não cagar
não abrir a bolsa anal
mas preferiu cagar
Assim como preferiu viver
em vez de aceitar viver morto
(...) aceitou viver sem corpo
quando uma multidão
descendo da cruz
à qual deus pensou tê-los pregados há muito tempo,
se rebelava
e armava com ferros, sangue,
fogo e ossos
avançava desafiando o Invisível
para acabar com o JULGAMENTO DE DEUS.

Mas vivenciar é também experimentar pensamentos nômades, produzir uma escrita das vísceras, elaborar conceitos grávidos de acontecimentos e trabalhar com citações inseridas no universo da contaminação e não da cópia, criando assim uma nova linguagem que cheira à vida, com suas impurezas, sujeiras, e que, de deslize em deslize, fabrica uma “enorme fábrica de carne” engendradora da merda necessária para desenhar na folha branca a escrita saída das pedras. Pedras dos rins, da vesícula, da verga enrijecida: verga dor, verga-ensangüentada, priapismo cristão, ereção dolorosa e perpetuamente mantida. Pedra do ânus, ventosa vaginal, grande boca devoradora do sol; absorção, expulsão, orgasmo sem queda, grito condenado à sua própria jubilação, sem recaída nem final possível. Pedra como passagem que bloqueia os orifícios da vida – vagina, clitóris, vagina,cu, por onde o devir-cocô e o devir- Ser encontram sua singularidade regida por uma lógica do múltiplo sentido: “A merda nasce no cérebro, o Ser e o cocô são a mesma coisa, que carregam em si, com sua parte maldita, sua própria morte”. Para Artaud, “Viver é eternamente sobreviver remastigando seu eu de excrementos, sem nenhum medo de sua alma fecal, força que tem fome de enterro.

Mergulhador de mares e lagos profundos; mergulhador da essência radical, sob suas formas trágicas e absolutas, Artaud impõe à escrita o corpo a corpo, o “encontro marcado”, que significa também, em grego, encontro amoroso com a matéria, com a “linguagem matéria”, matéria que pensa, numa bacanal à qual não faltam nem as orgias escatológicas da “Festa de Deus”, selvagem e cruel, onde esperma e excremento se mesclam a Eros e Tanatos, nem uma ponta de revolta necessária à erotização da palavra e da criação literária, erotização-morte, morte que rima com amor. Artaud queria o corpo perfurando a língua, trespassando-a por confrontos hipersexuais – Heliogábalo – ou mágicos - Taraumaras -, executando, se necessário, uma espécie de esmagamento da carne e doa intestinos para chegar ao corpo da língua e da escrita: “Fui obrigado a cagar sangue pelo umbigo para chegar ao que almejava”, declara Artaud. Para ele, observou Anaïs Nin, “escrever também é doloroso. Só o consegue de maneira espasmódica e com grande esforço”. (Extraído do livro de Daniel Lins, Antonin Artaud: O Artesão do Corpo Sem Órgãos. Editora Relume Dumará. Rio de Janeiro, 1999. p.7-8-9)

segunda-feira, 5 de maio de 2008

BERTOLD BRECHT


culturareligare.wordpress.com/2007/08/

Os que lutam

Há homens que lutam um dia
e são bons;

há os que lutam um ano
e são melhores;

há os que lutam muitos anos
e são muito bons;

mas há os que lutam a vida inteira:

estes são os imprescindíveis.

Bertolt Brecht

SE FÔSSEMOS INFINITOS


Fossemos infinitos

tudo mudaria

Como somos finitos

muito permanece.


QUEM SE DEFENDE


Quem se defende porque lhe tiram o ar

ao lhe apertar a garganta,

para este há um parágrafo

que diz: ele agiu em legitima defesa.


Mas o mesmo parágrafo silencia

quando vocês se defendem porque lhes tiram o pão.

E no entanto morre quem não come,

e quem não come o suficiente

morre lentamente.

Durante os anos todos em que morre

não lhe é permitido se defender.


NA MORTE DE UM COMBATENTE DA PAZ


Aquele que não cedeu

foi abatido

O que foi abatido

não cedeu.

A boca do que preveniu

está cheia de terra.

A aventura sangrenta

começa.

O túmulo do amigo da paz

é pisoteado por batalhões.

Então a luta foi em vão?

Quando é abatido o que não lutou só

o inimigo

ainda não venceu.

O Vosso tanque General, é um carro forte


Derruba uma floresta

esmaga cem homens,

mas tem um defeito - Precisa de um motorista


O vosso bombardeiro, general

é poderoso: voa mais depressa que a tempestade

e transporta mais carga que um elefante

Mas tem um defeito - Precisa de um piloto.

O homem, meu general, é muito útil:
sabe voar, e sabe matar

mas tem um defeito - Sabe pensar.

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sexta-feira, 2 de maio de 2008

Coffee & Tv - BLUR

SOBRE CAFÉS E CIGARROS

Fernando de Castro

Prometi não falar mais de cigarro. Pega mal. Parece apologia. Também já prometi tentar parar de fumar. Ainda nem tentei. É sabido que o cigarro é o pior de todos os vícios. Falar de cigarros talvez seja o segundo pior, hoje em dia. É difícil soprar a fumaça a seco, fuzilado por olhares saudáveis, sem poder contra-argumentar com qualquer coisa positiva. O cigarro fede às narinas evoluídas, e não adianta forjar considerações que ressaltem a noção de aroma. Não existe safra de tabaco. Ninguém pede um maço de Marlboro vermelho ano 63. A fumaça escurece pulmões alheios. Somos assassinos de nós mesmos e de uma legião de futuros triatletas. O estado de acuamento é quase justo e reforça a impressão de que não duraremos muito tempo. Todo cigarro tem sabor de último cigarro. Nosso destino é a extinção, assim como aconteceu com o Minister Extra Mild e a ética petista.Comecei a fumar em 1996. Foi um ano e tanto para o Brasil. O frango virou herói nacional. FH nos chamou de caipiras. Morreram Renato Russo, Mamonas Assassinas e PC Farias. Maluf elegeu Celso Pitta prefeito de São Paulo. Em Ipanema, a moda eram os apitos nas rodas em que se fumava maconha, para avisar que a polícia se aproximava. Não me lembro do meu primeiro cigarro, mas sei que não foi em Ipanema e que ainda não se fazia necessário usar um apito antes de acendê-lo. Não era caso de polícia.O início dos anos 2000 pareceu uma época extremamente promissora para os novos tabagistas. Mal sabíamos que era o apagar das guimbas. Na Alemanha, fumava-se até em supermercado. Em Barcelona, em bares como o delicioso Oveja Negra, provocava-se: “Aceitam-se não-fumantes”, dizia a placa, numa versão bem mais politicamente incorreta do que a dos cafés portugueses da Ribeira, no Porto, onde as placas acusavam a proibição de se estudar no local. Foram nossos anos JK. Devíamos ter previsto que a dívida que nos esperava seria praticamente impossível de pagar.Certa vez o Zuenir, com toda a sua elegância, ao me ver acendendo um cigarro, sugeriu que eu fazia besteira. O Zuenir sabe das coisas. Tentei ser espirituoso, que é a forma mais honrada de se falar asneiras e justificar fraquezas. Disse que apostava na medicina. No fundo, fazia um bem para a sociedade. A ciência precisava de tipos como eu. Só assim alcançaríamos a cura para as doenças potencializadas pelo consumo do cigarro. Não pretendia uma placa ou estátua quando esse dia chegasse. Nada de monumentos em homenagem ao fumante desconhecido. Tragava pelo bem da humanidade. Eu era assim, um abnegado. Zuenir riu. O Zuenir é um ex-fumante elegante.O golpe definitivo contra nossa espécie foi essa lei que proíbe o consumo de cigarros em cafés, bares, restaurantes, farmácias ou qualquer outro estabelecimento que venda produtos de necessidade fundamental ao ser humano, como café, chope, bife à milanesa e desodorante. Foi o primeiro passo rumo a nossa anti-sociabilidade definitiva. Nosso prazer hoje está nos pequenos momentos. Aqueles em que nos vemos autorizados a desviar da lei, com a conivência indireta dos nossos inimigos – ou seja, os não-fumantes inveterados, a espécie que mais cresce no Brasil.Meu único grande momento se deu há algumas semanas. Teve como palco um dos melhores cafés-restaurantes-livrarias da Zona Sul, cujo rigor da lei se faz enxergar nas diversas placas espalhadas por todas as suas dependências. Já recusava o endereço há algum tempo, pelo óbvio motivo de que não se podia mais fumar ali. Até que certa noite eu encontrei o Antônio Torres na porta. Chamou-me para um café, ao que fiz menção de recusar, mas o bom senso me avisou que um café com o Torres seria agradável até sem as necessárias doses de nicotina que o líquido exige.Casa lotada, mesa central, o Torres não tardou dois minutos para acender um cigarro. Esperei pela reação dos outros clientes, convicto de que as primeiras queixas não demorariam. Mal sabia eu do prestígio do grande escritor. Sempre que alguém acusava o gesto de irritação, espiava a origem daquela fumaça e, permissivo com o vício do autor de Meu querido canibal, recolhia-se ao seu prato, numa das maiores manifestações de respeito que já vi um não-fumante praticar. Foi lindo. Fui de carona, no prestígio do Torres. Fumamos à beça, feito dois Cunhambebes entre tantos colonizadores. E, contrariando toda história recém-escrita, saímos de lá como vencedores.
(Artigo publicado no Jornal do Brasil, em 18/07/2006)

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Meu Maio


http://images.google.com.br/images?hl=pt-BR&q=Guttuso+e+a+feira


Meu Maio

Vladimir Maiakovski

A todos
Que saíram às ruas
De corpo-máquina cansado,
A todos
Que imploram feriado
Às costas que a terra extenua –
Primeiro de Maio!
Meu mundo, em primaveras,
Derrete a neve com sol gaio.
Sou operário –
Este é o meu maio!
Sou camponês - Este é o meu mês.
Sou ferro –
Eis o maio que eu quero!
Sou terra –
O maio é minha era!

Flor de Maio

José Edson dos Santos

Flor da quintessência
até a borboleta
voa serena
em teu ser


Chuva do Cerrado

José Edson dos Santos

Chove leve
lava Brasília lívida
lânguida


Abre espartilho
cinzento da noite
barca solidão partida

Brilho no olho néon
costura o silêncio
na poça d’água serena

Comove ave leviatã
como nau luspicínica
sob falena inconsútil

Chove leve
lava Asa Norte fútil
sonata breve leviana