sábado, 7 de maio de 2011

FINCAPÉ Coletivo de Poetas







Lançamento FINCAPÉ Coletivo de Poetas - Biblioteca Nacional de Brasília, 5 de abril de 2011, fotos de Basilina Pereira


FINCAPÉ, publicada pela Thesaurus Editora em abril de 2011 é a sexta coletânea do Coletivo de Poetas, organizada por Menezes y Moraes. As outras antologias cooperativadas foram: Poemas(1990), Contos(1990), Outros Poemas(1992), Ibirapitanga(1994) e Mais Uns(1997). O Coletivo de Poetas existe há 21 anos, é pioneiro na realização de saraus no Distrito Federal e tem como filosofia o lema Poesia para Todos. Os 43 poetas que integram a coletânea FINCAPÉ, nas palavras de seu organizador, “celebram a Vida (seus encontros e desencontros), se indignam diante a miséria social e manifestam carinho por Brasília”.

No Mundo da Lua (Almira Rodrigues)

não sou bailarina
me falta equilíbrio
sou poeta
posso tirar os pés do chão
e ficar no mundo da lua

O Dorso da Palavra (Basilina Pereira)

O dorso da palavra me compele
a desvendar o mistério da tarde.
Aquele espaço que é de tempo,
de brisa
e ninguém sabe quanto vento ainda trará.
Se o ouro que transborda vem dos olhos
que garimpam emoções
ou dos versos que escondem o segredo das cores.
No poente, invento nuances até não ter mais tons
para rimar
E nos sons que ora se abrem ora se fecham
colho mágoas e alegrias
até o poema se mostrar.

A Trapezista (Carlos Augusto Cacá)

A segurança do palco
não seduz a trapezista
A sua alma de artista
projeta-se para o alto

Se há um risco no salto
há outro na plataforma
viver essa vida morna
no máximo balançar

Porém se quiser voar
e se confia em meus braços
salte para os aplausos
quando eu te colher no ar

Brasília (Carla Andrade)

O tempo e suas longas tranças
debruçadas em varandas com
vista para os olhos da cidade.

A cidade com seus sentimentos
enclausurados em caixas de concreto
pés de aço,
jardins de cimento,
estátuas mijadas.

Você tem que ser híbrido
até seu silêncio dever ser civilizado.
Deixe o que é visceral para
a fotossíntese das plantas.

O que é magistral na sua loucura
para a metamorfose das borboletas

Nada de mudanças repentinas,
enquanto a cidade e seu relógio analógico
decidem seu destino.
Ande devagar, não olhe para os pássaros.

Ária do Amor Desesperado (Chico Porto)

amar
imprescindivelmente
a palavra
disseminada
dissimulada
em teu corpo invicto
eu
o teu leitor convicto

Um Fado Cego (Donne Pitalurgh)

Dei pra dedilhar um fado cego
na guitarra portuguesa do meu medo
e pelo Alentejo eu carrego
d’oliva da manhã, o gosto azedo

O peito enferrujado feito prego.
Heterônimo de dor e azulejo.
Meu amor, eu te amo e te renego
na pessoa lusitana do meu beijo.

Quanto mais mar houvera, mais navego
oceano proceloso, céus, rochedo,
buscador que sou da primavera.

Quanto menos El Rey espera, mais eu chego
noite alta, madrugada, manhã cedo,
na nau catarineta da quimera.

Verde Triste (Ézio Pires)

Enquanto
o verde triste do cerrado
anuncia
o ventre da terra
em
brasa
Anja W3
bate asas...
Eu bato
pernas...
sem ouvir
as cigarras...
que não cantam mais em minha terra...

Desatino (Nonato Veras)

Fique á vontade
a poesia passou por mim ontem, de tarde
hoje, depois do vinho,
sou cavalo de outro desatino.