sexta-feira, 20 de novembro de 2009

Solano Trindade e Jorge Amancio



O Dia da Consciência Negra é um dia celebrado no Brasil, dedicado a reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. A data foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. O dia é celebrado desde a década de 1970, embora só tenha ampliado seus eventos nos últimos anos; até então, o movimento negro precisava se contentar com o dia 13 de Maio, Abolição da Escravatura – comemoração que tem sido rejeitada por enfatizar muitas vezes a "generosidade" da Princesa Isabel, ou seja, ser uma celebração da atitude de uma branca.


Abolição número dois (Solano Trindade)


Parem com estes batuques,

Bombos e caracaxás,

Parem com estes ritmos

tristes e sensuais

Deixem que eu ouça

Que eu veja

Que eu sinta

O grito

A cor

E a forma

da minha libertação...


Meu Reino (Jorge Amancio)


Reino nas páginas policiais

Reino nas favelas, nos mocambos

Reino nos cárceres, nos hospícios

Reino no analfabetismo,

nos assassinados


Reino num continente de fome

outrora promissor, místico,

dono dos segredos de Lemúria


Reino nas injustiças do

esquecimento,

na exploração da desinformação


Reino nos guetos, nas favelas

nas esquinas, nos sinais

debaixo das pontes

nos sem tetos

nos de rua


Reino nos abastados

na gravidez precoce

nos sem renda

nos com fome


Reino no reino outorgado

fadado a desaparecer

excluído do poder


Reino que reino

de gente negra

sábado, 14 de novembro de 2009

Pão Moreno - José Edson dos Santos


Pão Moreno

Poesia perdão
Tudo vale a pena
se a alma não é pequena
A vida só é possível
reiventada
Se a vida é curta ou longa
demais para nós
a esperança não murcha
ela não cansa
também como ela
não sucumbe a Crença
Quando o dia está bonito
ainda a gente se distraí
O amor é grande
e cabe nesta janela sobre o mar
mas há a vida que é para ser
intensamente vivida
há o amor que tem que ser vivido
até a última gota
no gelo da indiferença
ocultam-se as paixões
O segredo é não correr
atrás das borboletas...
O perdão vem de qualquer lugar
e por onde passamos
goza, goza da flor da mocidade
Tu não estás comigo em momentos escassos
Abrindo um antigo caderno
foi que descobri
Antigamente eu era eterno
Quando amo
eu devoro
todo o meu coração
Traze-me um pouco de alvura dos luares
O mar é grande e cabe na cama e no colchão do amor
Mas nele é que espelhou o céu
Voltam sonhos nas asas da esperança
Aqui fora está tão frio
e lá dentro está também
Cuidar do jardim para que ele sonhe até você
Se não tocamos o coração das pessoas
Navegar é preciso
Viver não é preciso
Se oculta lava quente
do seio dos vulcões
Vê que nem te peço ilusão
no pensamento meu amor
tu vives nua
O tempo trota a toda ligeireza
não é motivo para não querê-las...
Eu odeio eu adoro numa mesma oração
Poesia perdão
Pão Moreno

Reinvenção edsoneana com colagem poética de: Amanda Avelino, Cora Coralina, Cecília Meireles, Clarice Lispector, Florbela Espanca, Chico Buarque, Mário Quintana, Vinicius de Morais, Gregório de Matos, Manoel Bandeira, Paulo Leminski, Augusto dos Anjos, Carlos Drummond de Andrade, Fernando Pessoa e Tom Jobim.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Lontra do Contra - José Edson dos Santos



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Abra os Quatros Quartetos
no teto taciturno de T.S.Elliot
um caldo de pilhéria do Oswald

Lustre os cílios de lady raposa
no espartilho de rosa da madrugada
dê uma sacada nos olhos de Morfeu

Acredite nos patins de Afrodite
decolando pelos jardins dos pássaros
mas antes assovie uma cantiga do Quintana

O arquiteto da dor nunca sorri
trama sempre o conflito
do poema mudo num grito

Repercute ainda o mantra onde a noite
remete à memória de águas claras
mágoas e estórias de uma Lontra do Contra